quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Calvário Feroz: rough cut do corte bruto sem TubarÕeS. Parte V


George Lucas mostrou um rough cut de Star Wars a um grupo de cineastas. O corte bruto significava que o filme estava montado numa sequência lógica mas sem preocupações com transições suaves ou cenas demasiado longas. Nesse corte também não estavam incluídos nenhum dos efeitos especiais, que foram substituídos por cartelas com fotos ilustrativas. Foi a galhofa. Os cineastas acharam ridículo. Sem ver os efeitos especiais, Steven Spielberg, foi o único na platéia, que achou que o filme seria um sucesso.
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Já rodei oito planos sequência completos em dois dias de ensaios com câmera. Usei meu assistente nos três primeiros planos e depois meu produtor, o diretor de arte e sua assistente. A patota toda que me atura. Todo mundo fala ao mesmo tempo, executam interpretações questionáveis, brincam. Tudo está valendo porque o que importa é a cronometragem e a movimentação de câmera. Desde que façam a ação, tá tudo certo. Quando vejo os ensaios em casa, rio de algumas partes. Acho que quando o filme estiver na lata, vou me rir muito mais. Creio que um leigo que visse tal encenação, nunca acharia que um filme poderia sair dali. Não o censuraria.
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Tenho visto Janela Indiscreta para ver a técnica do Hitchcock de criar tensão e suspense através de planos longínquos. Os olhos de James Stewart passeiam pelos apartamentos vizinhos em longos planos sequência. As ações têm que ser firmes para que à distância o público possa compreender. Tudo tem que ser marcado e claro. Lento. Nos nossos ensaios, à distância não vejo direito o diretor de arte e sua assistente que interpretam uma mulher e seu carrasco no filme. Eles estão bem longe da câmera e ela leva um tapa e é arrastada para dentro da mata. O fato dos dois não serem atores e ficarem completamente estáticos, não ajudou. Preciso dos atores. Só que o ator principal está gravando o final de uma novela e o outro ator está em São Paulo. Sinto numa escala microscópica o que os estúdios de Hollywood passam quando têm que adiar seus filmes porque os protagonistas ainda estão em outros projetos. Mas não posso reclamar, visto que todos estão fazendo o filme por amor e confiança. Mas, mesmo assim, me sinto como o Spielberg rodando Tubarão sem o tubarão. O tubarão vivia dando problemas, por isso Spielberg apelou para sua criatividade e fez um filme onde o tubarão quase não aparece. Ensaiemos sem os tubarões, então.
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Creio que se mostrasse os ensaios para um Spielberg brasileiro, ele diria que este vai ser o meu melhor filme. Não o censuraria.
Foto Garota e Tubarão por Mike Berceanu.
Quadro "Watson and the Shark" por John Singleton Copely.
Quadro "Watching the sharks at Monterey" por Benoit Philippe.
Spielberg e o Tubarão por Universal Pictures.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Comentário Lampejante

Para qualquer lugar que vá, olhe, circunde e me aproxime, ouço Michael Jackson. Tem uns 18 anos que não vejo o cara tão popular.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NãO)



KINO- Se, Jie/Lust, Caution/Desejo e Perigo, dir. Ang Lee, USA/China/Hong Kong/Taiwan, 2007.


Tony Leung arrebenta como sempre. Um protagonista sombrio e silencioso como só ele sabe fazer. O filme é primoroso em todos os aspectos técnicos. Se não fosse a longa duração, seria uma obra prima.




KINO2- À Deriva/Adrift, dir. Heitor Dhalia, Brasil, 2009.

Uma diferença fundamental entre Heitor Dhalia e a maioria dos cineastas brasileiros, é que ele faz filmes universais enquanto os outros fazem filmes regionais. Nota-se isso logo na abertura de À Deriva. A música, os enquadramentos, ações que dispensam palavras. Poderíamos transportar a narrativa para qualquer lugar do mundo que o filme seria o mesmo. À Deriva é bom, mas não chega a ser genial como O Cheiro do Ralo. Parece que o diretor decidiu fazer algo mais light para descansar do clima pesado de seu filme anterior. Acertou na mosca. Um filme sensível, calmo e honesto. Dhalia é o cineasta brasileiro mais excitante desde que Fernando Meirelles apareceu com Cidade de Deus. Aguardo ansiosamente seu próximo filme e tenho muita curiosidade em ver seu filme de estreia, Nina.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Prozac da Semana

Trabalhei durante algum tempo da minha vida vendendo quadros. Serigrafias, Óleos, Posters, Aquarelas. Já vi muita coisa. De Vermeer a Kandinsky. Há muito tempo não via um trabalho tão interessante e inspirador (aberrante também) como o de Ray Caesar. Um amigo viu num blog, eu vi no blog dele e apresento agora no meu blog. Numa semana atarefada, o trabalho desse artista foi o Prozac que eu precisava. Ray Caesar é puro cinema.

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Calvário Feroz: Enquanto a grama cresce, o cavalo passa fome. Parte IV

Vendo que os atores do filme não teriam tempo de ensaiar durante a semana passada e, na ausência de minha patroa, decidi ir a BH visitar minhas avós e um amigo.
Nas 5 horas em que dirigia, tentava elucidar-me de motivos emocionais para cada parte do filme, a fim de saber onde posicionar a câmera e ter um porquê para tal. Missão ingrata devido a estúpida necessidade de prestar atenção na estrada e nas belas paisagens que circundavam o veículo.

Tagarelei com avós, primos, tios e amigo e nos momentos de pausa, li. Busquei na "biblioteca" um livro que falasse de cinema, de preferência, com uma história de superação. Encontrei Brando - Canções que minha Mãe me Ensinou.

Típico exemplo do mito americano do self made man, Marlon Brando passou de caipira a ícone do teatro e cinema. Aluno de Stella Adler, Brando revolucionou o método de interpretação, trazendo naturalidade e realismo a seus personagens. A sua geração e todas as seguintes foram influenciadas por ele. Basicamente, muitos americanos (e não só) consideram-no o maior ator de todos os tempos.

O que me chamou a atenção em sua biografia foi o fato dele querer sempre trabalhar o mínimo possível. Inventava doenças, desaparecia do set e reescrevia seus diálogos com intuito de diminuir a sua participação no filme. Um ator considerado genial, que queria fazer o seu trabalho o mais rápido possível para poder voltar para sua ilha no Taiti, suas pescarias e suas nativas da Polinésia.
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Teve uma época que sentia vergonha de mim mesmo por me sentir angustiado e tenso durante a realização de um filme. Minha vontade era que aquilo acabasse logo. Queria que todos os atores, aquelas luzes e refrigerantes repletos de cafeína sumissem da minha frente. Todos os prazeres do processo cinematográfico são para mim altamente torturantes e masoquistas. O único prazer pleno, puro e virginal é assistir ao filme pronto. Ponto final.

Decidi não mais ter vergonha disso e assumir, contentar-me. Prefiro não entrar na parte psicológica do porquê de tamanha angústia ao filmar, mas posso dizer que deve-se em grande parte ao fato de temer o fracasso. Esse temor, faz com que sofra durante atrasos na iluminação, erro de atores e mudanças climáticas. Mantenho-me num estado de incessante controle artístico que busca pela "perfeição" a todo instante que se choca com um estado de incessante vontade que aquilo tudo acabe logo. O embate desses dois estados de alerta esgotam-me de tal forma que parece que filmei durante um ano.
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Apercebi-me hoje que faltam 20 dias para o início das filmagens. Entrei em TPF (tensão pré-filme) e sucumbi à vontade de comprar um maço de cigarros. Parar de fumar é ainda mais difícil do que dirigir um filme.
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Quando Júlio César venceu a batalha de Zela, na atual Turquia, ele escreveu: Vim, Vi, Venci. Brinco com essa frase aqui no blog no espaço que dedico à dar opinião sobre filmes que vi recentemente (Vim, Vi, Curti - ou Não).

Sempre tive o hábito de pensar nessa frase quando cismo de me enclausurar em casa vendo tv quando tenho mil coisas para fazer. A outra frase é o ditado arcaico inglês que dá título a essa postagem e que eu li em Hamlet.

GRRRRRRRRRRRRRRRRRR! Ganhando forças... Sai de mim ÓCIO!!!
Saiu. Preciso marcar esses malditos ensaios.
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Olho para o lado e vejo o maço de Marlboro. O símbolo da Philip Morris tem dois cavalinhos, num brasão de armas que diz em baixo: Veni, vidi, vici. Pelo menos a indústria de cigarros está pensando positivo...