segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma viagem alfacinha dum Carioca em Minas de Nova York



Li/Ouvi em algum lugar que para ter uma identidade nacional ou mesmo global, o indivíduo precisa ter uma identidade regional. Ou seja, só respeitando e gostando de suas raízes natais, ele poderia apreciar e defender o resto. Sempre me considerei um apátrida. Regionalismo então, que babaquice. No entanto, é difícil não defender Minas Gerais em detrimento do resto. Ou não defender o Brasil duma afirmação idiota feita por um gringo. Ou não proteger o nosso planeta dum bando de otários que podem nos conquistar porque têm mais dinheiro.
O clipe acima representa a nova New York, New York imortalizada por Frank Sinatra. Jay-Z e Alicia Keys deram um retoque moderno na inaltação da cidade que nunca dorme. É comercial? É pop? É metido a besta? É cafona? É. Mas, é bom. "The lights will inspire you", as luzes vão te inspirar. Devo dizer que é verdade. Nunca me deparei com tamanha manifestação de informação, de cultura, de loucurrra e caretice. Ideias pipocavam na minha cabeça a todo instante. A praia carioca me prostrou.
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Jon Voight coloca seu chapéu caipira interpretando o protagonista de Midnight Cowboy. Ele ouviu dizer que em Nova York só tem viados e que teria um futuro como gigolo na cidade que nunca dorme. Com poucos dólares no bolso, ele chega na rodoviária e descobre rapidamente que seu sonho era tão consistente quanto a fumaça de seus cigarros.
Midnight Cowboy é uma das maiores obras primas da sétima arte. A frustração dum sonho ingênuo. É também a melhor interpretação de Dustin Hoffman de todos os tempos. Contrariando o Method do Actor's Studio, ele não quis saber de interiorizar a dor para o mancar de seu personagem. Colocou pedrinhas dentro do sapato e a dor incomadava-o a ponto de mancar.
Cheguei em NY sem intenções de me tornar um michê, mas meu objetivo era similar ao do personagem de Jon Voight: conquistar Nova York. "If you can make it there/you can make it/anywhere" (Se você conseguir lá/você consegue/em qualquer lugar).
Não foi bem assim. Analisei através de comentários e experiências que todos os grandes diretores de fora dos EUA, foram reconhecidos primeiramente por filmes em seus países natais. Daí, vieram convites para ir a Roma. Nova York é a Roma do milênio. Se gostarem lá, gostarão em qualquer lugar. Não por causa dos americanos (que são cada vez mais minoria na cidade), mas por causa de seus óculos globais. Todos estão representados ali.
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Reclamo para cacete do Rio de Janeiro. Me criticam por isso. Como se o fato de ser um forasteiro não me permitisse detonar e implodir minha opinião. Normal. Sempre fui "estranja".
Sempre existe e existirá uma sacaneada e xenofobismo direcionado aos outsiders. Tô acostumado. No Brasil era português e em Portugal era brasileiro (como meu amigo Roberto Leal). Em New York era um latin american. E no Rio, sou mineiro. O rótulo está sempre presente quando somos de fora ou somos diferentes.
Se esquecem que voto e pago impostos aqui. Que escolhi essa cidade para viver.
Emeric Pressburger nasceu no império Austro-Húngaro e tornou-se famoso por co-dirigir filmes de enorme sucesso com Michael Powell na década de 40. The Life and Death of Colonel Blimp e Black Narcissus estão sempre nas listas de melhores filmes de todos os tempos entre críticos americanos. Uma vez, ele disse que se sentia mais britânico que os próprios britânicos. Afinal, ele não era obrigado a ser britânico por nascimento, ele o fez por escolha.
Sou viçosense, mineiro, alfacinha, new yorker e carioca da gema. Me deixem ser o que eu quiser, independentemente do Galo cair para a segunda divisão ou não.

sábado, 2 de outubro de 2010

Design Feroz

Cartaz temporário para o festival de cinema de Oaxaca, México. Juliana, que trabalha na Faro Filmes, pintou meu conceito pela mágica do Photoshop. Good job!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sequencial plano de aniversário!!!

Um blog que cada vez mais se especializa na grande paixão: o plano sequência.

Mais um clipe dos OK Go - White Knuckles

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Calvário Feroz: O insustentÁVEL PeSO da RejeiçÂO. Parte XI

O que faz um diretor como o Kenneth Branagh dirigir o novo filme do super-herói Thor? O que faz Woody Allen sair de Manhattan? Grana, mas não só.
Branagh dirigiu Hamlet (1996), colocando na tela o texto integral da peça num filme de 4 horas. Elogiadíssimo. No entanto, o filme custou 18 milhões de doletas e arrecadou 4.

Woody Allen tem um público fiel, mas escasso. Seus filmes sempre fizeram sucesso nas grandes metrópoles, mas ficaram desconhecidos para o resto do mundo. Ah, mas e Annie Hall (o título no Brasil, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, é um pouco indigesto), o maior sucesso de Allen que ganhou até o Oscar? Custou 4 e arrecadou 38 milhões. Um lucro considerável, mas uma arrecadação pífia se comparado a verdadeiros blockbusters. No mesmo ano, foi lançado Star Wars que arrecadou 35 milhões só no fim de semana de estréia (acumulando uma bilheteria final de 460 milhões só nos EUA). Sacanagem comparar Star Wars com Annie Hall? Outros filmes de 1977 que arrecadaram mais de 100 milhões: Os Embalos de Sábado à Noite, Encontros Imediatos de 3º Grau e Agarre-me se puderes (Smokey and the Bandit com o Burt Reynolds).

Creio que em algum momento, por mais que a crítica elogie, o cineasta sente necessidade de agradar ao grande público. Afinal, os filmes são feitos para serem vistos. Se Rodin tivesse esculpido todas as suas estátuas e as tivesse deixado em um galpão, escondidas dos olhos do público, seriam essas obras consideradas arte? Sempre questionei se pode se chamar de arte, uma obra que é apenas admirada por seu autor... Pode a arte existir sem público?

Muitos cineastas independentes não têm o menor problema (muito pelo contrário) em fazer filmes para nichos, para públicos específicos. Outros, não.

Um exemplo recorrente no Brasil são alguns atores de teatro denso que vão fazer novela. Claro que tem a ver com dinheiro, mas também tem muito a ver com reconhecimento. Em algumas festas ambientadas nas madrugadas surradas do Rio, convivo com alguns deles, que hoje são galãs de novela das oito. Por mais que eles comentem seu desprezo pelas narrativas protagonizadas na Globo, observo que sentem um intenso prazer ao serem reconhecidos, elogiados, assinando autógrafos. Artista gosta de aparecer. Ponto final.
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Enfrentando as brumas burocráticas dos festivais de cinema, já enviei o meu último curta, Ferocidade entre a Urbe e a Flora, para 35. Rejection Rejeição Denied Negado Verboten. Ver listas e listas de selecionados serem divulgadas e não ver o seu nome, é frustrante. É não atrás de não! Dizem que no início de carreira, quando Picasso não conseguia vender um quadro a um marchand, ele jogava-o no lixo assim que saía do atelier.
Nunca arremessei um Dvd pela janela ou quebrei o HD do meu computador após a rejeição de um festival. No entanto, já me comportei de forma reclusa e preguiçosa ao mandar os meus dois curtas anteriores para pouquíssimos festivais. Era como se cada rejeição significasse que ir ao correio enviar mais um filme fosse uma perda de tempo. Sola de sapato gasta à toa.
O anterior, Zero Hora, foi selecionado pelo festival de Brasília. Fiquei orgulhoso e não mandei o filme para mais nenhum festival. Tava cansado de ouvir NãO.
Ferocidade estava empacado. O filme foi exibido na MOSCA (Mostra audiovisual de Cambuquira), mas sem demérito à mostra, antes pelo contrário, não é um festival competitivo.
De oito festivais que deram resposta de seus selecionados, todos tinham subjetivamente barrado o filme. Os olhos brilham e a energia irradia ao ouvir boas novas. Ferocidade entre a urbe e a Flora foi selecionado para o Festival internacional de Oaxaca, no México. Um festival com prêmio alto e que reunirá uma interessante comunidade cinematográfica.
A felicidade bateu à nossa porta. Agora, podem falar não à vontade.

Festival de Oaxaca: www.oaxacafilmfest.com/

sábado, 11 de setembro de 2010

Vivendo o filme CaTástroFE


Sobressalto. Atrasado. Copo de cálcio. Porta fora e metrô.
Entro pela sala de aula. Cadê o professor?
Um avião colidiu com o World Trade Center, disse o colega.
Tinha passado em Tribeca há pouco, quando ainda no trem.
Outro aspirante a cineasta abre a porta da sala. Um segundo avião acaba de colidir, diz ele.
Todos se dirigem para uma das salas de projeção. Telão grande, capacidade para 200 pessoas assistirem os replays da CNN. O avião bate. De outro ângulo. Contra plongé. O outro avião se espatifa. Fumaça. Gritaria.
Viro para um japonês da minha turma. Eu tinha ajudado a colocar o curta super 8 dele nas projeções de final de ano. Ele, grato, me ofereceu uma carona que recusei para não dar trabalho. Dessa vez era diferente. Cobrei a carona daquela noite e ele fez questão de me levar. A fumaça de Manhattan era vista de qualquer ponto do Brooklyn.
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Quando morar em Nova York era apenas um sonho e eu ainda era um turista, passei pelo túnel que liga a New Jersey. Meu pai divagou numa ideia para um filme: e se o túnel explodisse e as pessoas ficassem presas circundadas por água (o túnel atravessa por baixo d'água). Uns anos depois essa mesma ideia foi usada em Daylight com o Stallone. Eles basearam muitas das sequências de ação num filme chamado O Destino do Poseidon com o Gene Hackman (que por sua vez teve um remake em 2006 chamado de Poseidon).
Os filmes catástrofe tiveram o seu auge na década de 70 que contou com os sucessos Inferno na Torre, Terremoto, Aeroporto 74 e o próprio Poseidon Adventure. Os títulos explicitavam onde ocorreriam a mais nova catástrofe repleta de efeitos especiais.
Não foram estas as imagens que se passaram por minha cabeça, no entanto.
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Pensa-se no que está acontecendo. Não foi preciso ser um gênio para deduzir que a probabilidade de dois aviões baterem por acidente nas torres gêmeas era reduzida.
Tão atacando essa porra! Tô no Brooklyn College, subúrbio, sem monumentos de grande importância à minha volta. Rota até a minha casa em Queens, subúrbio. Se eu morasse na Times Square ou perto do Empire State Building, só apareceria por lá no dia seguinte. Nunca foi tão seguro morar no subúrbio.
O Japa acelerou para cruzar Brooklyn/Queens. Dois colegas vinham comigo no banco de trás e outro ia no passageiro. Um cara filmava as torres queimando com uma Sony VX2000 enquanto todo mundo falava ao mesmo tempo em japonês. Eu ficava quieto, olhando aqueles dois charutos de concreto.
Uma torre desmoronou. A câmera filmando. Takahiro, o motorista, diminuiu a velocidade para poder olhar. Já não viu. Foi muito rápido.
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Confesso que fiquei excitado pelo enxaropado Titanic. Para mim tinha valido a pena esperar todo aquele romance de três horas só para ver o navio afundar. Os efeitos foram de grande realismo e me impressionaram. Eu devia ter uns 18 anos e ia constantemente a esses filmes para acompanhar a evolução tecnológica dos efeitos. Armageddon, Twister, Inferno de Dante. Acompanhava tudo isso. Sempre na telona, claro.
No entanto veio uma regressão e os efeitos viraram defeitos especiais. O uso da máquina operante computadorizada ajudou a cortar custos ao explodir virtualmente um caminhão que antes era explodido na real. Quando se misturou a filmagem real com o virtual no fim da década de 80, obteve-se resultados extraordinários. Mas, hoje, os grandes estúdios americanos querem fazer tudo no computador e tornam a diagese pouco convincente. Diagese significa a realidade da narrativa compreendida de forma externa (essa veio da época das minhas aulas de Film Theory).
Os efeitos de hoje em dia não convencem e filmes catástrofe como 2012, se tornam entediantes (bem fraquinha aquela cena do Cristo desmoronando).
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O carro atravessava a highway e com muita sorte passávamos no momento exato que a polícia fechava os acessos. Passamos uns cinco até que não teve mais jeito e tivemos que dar uma baita volta pelo norte de Queens.
Cheguei em casa. A Dora, que dividia o apartamento comigo, estava vidrada na televisão. Sentei ao lado dela. Ficamos um tempo em silêncio até ela dizer - Vim a pé para casa. Andei pra cacete. Eles fecharam o metrô e as pontes. Voltei a fumar de tão nervosa.
Voltamos ao silêncio. Eu acendi um cigarro. O cheiro da fumaça do tabaco era fraca em comparação ao cheiro indescritível que vinha do World Trade Center, que estava do outro lado do rio. Aquele cheiro permaneceu em todos os cantos da cidade por uma semana. O olfato fazia com que todos fizessem parte da tragédia.

Astoria, Queens, 11 de Setembro de 2001

Quadro abstrato do Poseidon: http://www.cinemademerde.com/Beyond_Poseidon_Adventure-abstract.gif

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Calvário Feroz: O SilêNCIO. Parte X

O siLêNcIo do estúdio cessou quando a gaita emitiu seu rugido. Começava a gravação derradeira da trilha sonora do meu último curta Ferocidade entre a Urbe e a Flora.
Meus dois curtas anteriores tinham trilha sonora alta, recheados de efeitos sonoros abrangentes. Quando os rodei, eu frequentava alguns bares do circuito underground de rock'n'roll de Nova York. A maioria desses shows era no Brooklyn. Eu acompanhava constantemente duas bandas: The Nervous Cabaret e Black Cat Revolver. Tocavam em bares em porões, em casas improvisadas (Asterisk) e nos clubs do Lower East Side (Arlene Grocery ou Bowery Ballroom). Desses mesmos bares surgiram bandas como The Strokes. Estava sempre envolvido por rock'n'roll de extrema qualidade. E nesse meio, consegui a música do Nervous Cabaret para o meu curta Out of the Prohibition Era e do Giraffes para o curta seguinte, Zero Hour.
Neste, Ferocidade entre a Urbe e a Flora, optei por uma tropa de cigarras e uma gaita esvoaçante e repetitiva. Repetitiva como o tema de Tubarão/Jaws e chatinha como a nota do insistente piano De Olhos bem Fechados/Eyes Wide Shut. Mas a referência mesmo, como não poderia deixar de ser, foi Era uma vez no Oeste/Once Upon a Time in the West e Três Homens em Conflito/The Good, The Bad and the Ugly de Sergio LeOne. Charles Bronson tocava a gaita em Era uma Vez... e Pedro Fasanello tocou para o Ferocidade. Trilha de ótima qualidade do Sr. Fasanello.
No filme, o som das cigarras gira 360º à volta do protagonista e a gaita estraçalha a vegetação da floresta da Tijuca, onde o filme foi rodado. Entre o canto da cigarra e as notas da gaita... existe silêncio.
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O curta teve seu áudio finalizado na Casa de Som - que apoiou o filme - e suas imagens concluídas e computadorizadas e dvdzadas na Faro Filmes - que produziu el filme.
Dedos martelando o mouse através de ilimitada pesquisa na internet de festivais para inscrever o benedito filho curta-metragem. Lista de Gramado a Seul, de Paulínia a Sofia. Cannes já fui recusado, muito obrigado. Gramado? Passar bem. Mas a esperança é a primeira que morre ao contrário.
Meu professor dizia na faculdade que ao inscrever um curta em dez festivais e ser aceito em um deles, já era uma ótima média. Tendo já inscrito anteriormente dois curtas em alguns festivais, e sentido muita rejeição, ganhei alguma experiência em o que não fazer - tanto psicológica como fisicamente. No entanto, o que importa é que continuo mandando o filme pelo mundo afora e esperando para ver se minha média está boa. Fly DVDs! And bring me good news!
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O silêncio entre gaita e cigarra é preenchido pelo murmúrio, pelo som da surpresa, pelos risos de nervosismo, pelo olhar da população. Um público que não tem cinema em sua cidade, mas que uma vez por ano, conta com a Mostra Audiovisual de Cambuquira, vulgo, Mosca. Um povo que não está acostumado a assistir um filme na companhia de tantas pessoas. Ingenuamente, expressam com muita emoção, os sentimentos que nutrem ao assistir as imagens da tela prateada. Claro que tem vários adolescentes engraçadinhos que fazem um barulho dos capetas tentando que seus colegas riam da palhaçada. Mas é legal lembrar de como o público de Cambuquira, interior de Minas, se comportava quando a mostra começou há 6 anos atrás. Era bem mais falante. O público Cambuquirense, hoje em dia, pede silêncio e se concentra mais nas histórias. A verdade é que eles entram na história.
Ferocidade entre a Urbe e a Flora tem três momentos chaves nos seus curtos 13 minutos. No primeiro, a audiência fez o "oooooooh" da surpresa. No segundo, o público mesclou risos sacanas com o "aaaaaah" do choque. No terceiro, algumas risadas foram abafadas... pelo silêncio.
Mais um curta-metragem pronto e sendo exibido. O ardor nas têmporas, o músculo contraído, a artéria nervosa e pulsante. Estou entre uivos da gaita e urros de cigarras. Ao silÊncio me recolho...
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Essa mostra, MOSCA, é organizada pela Ananda Guimarães e outras grandes amigas, que com muito suor levam cultura para essa cidade encantadora que se chama Cambuquira. Foi com muita honra que participei da MOSCA com o Ferocidade. Honra e pressa devido ao compromisso inadiável do Sr. Pedro Fasanello - trilheiro e diretor de arte do nosso curta - que acompanhou a mim e minha esposa, Laura, até o sul de Minas.
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Extra, extra, extra. Lembrando que a água mineral das fontes naturais de Cambuca é a melhor que já bebi (tem gás natural) e o pôr do sol vendo o voo livre dos paragliders é espetacular.
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Parabéns a Márcio Vito, o protagonista do nosso Ferocidade, que ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante no festival de Paulínia pelo filme 5 x Favela- Agora por nós Mesmos.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Blu: um convite à euforia pela ArTe

Depois de algum trabalho, uma viagem NY/Europa, um certo desânimo, uma mostra de cinema e muito tempo jogado fora, eu volto a povoar este blog. Perdão pela ausência.

Um rio de criatividade passou pela minha vida e varreu essas imagens duma postagem facebookiana do eterno contribuinte Marcello Lima para as páginas replicantes deste blog que vos escreve.

Com vocês, Blu!!!

Se tiver uma conexão razoável, aconselho que assista em fullscreen.

Site do artista: BLUBLU.ORG

quarta-feira, 31 de março de 2010

Mais um plano sequência para a CoLeÇÃo

Todos os cineatas, cinéfilos e entusiastas comentam o plano sequência de abertura de El Secreto de sus Ojos, do argentino Juan José Campanella. Eu acabei de rodar o curta Ferocidade -entre a Urbe e a Flora, um plano sequência. Como tal, apresento um clipe em plano sequência com grande teor de dificuldade para que se divirtam sem cortes.



sábado, 27 de março de 2010

Fragmentos de um roteiro cinematográfico SOBRE os Nardoni



FADE IN.

EXT. FÓRUM - DIA

ROBERTO PODVAL, 50, ligeiramente acima do peso, vestindo terno impecável, anda em direção à entrada do fórum.

Uma multidão cerca Roberto, dificultando sua entrada no fórum.

Os jornalistas se aglomeram em volta de Roberto buscando a melhor imagem.

REPÓRTER GLOBAL
- Roberto Podval, advogado de defesa de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acaba de chegar ao fórum onde acontece o julgamento. É grande o número de cidadãos e jornalistas em volta do advogado que tem dificuldade de chegar à entrada do fórum. Vamos tentar -

Um HOMEM, 38, porte físico avantajado, esbarra violentamente no REPÓRTER GLOBAL, 28. O homem fura a barreira de pessoas e aproxima-se rapidamente de Roberto.

Roberto arregala os olhos ao ver o homem se aproximando. Este, desfere um soco no estomâgo do advogado.

Assustadas, as pessoas se afastam dos dois. Os flashes disparam.

DOIS POLICIAIS se aproximam da confusão. O agressor se esgueira e desaparece na multidão.

Os policiais escoltam o advogado, empurrando as pessoas que atravessam seu caminho.

A testa de Roberto está encharcada de suor. Ele é quase uma marionete nas mãos dos policiais, que praticamente o carregam.

Desnorteado, Roberto consegue finalmente adentrar o fórum.

REPÓRTER GLOBAL
(olhando para a câmera)
- Como vocês puderam observar, o advogado de defesa do casal Nardoni foi agredido e teve grande dificuldade para entrar no fórum. As pessoas que se aglomeram na frente do recinto começam agora a entoar cânticos pedindo justiça. De volta ao estúdio. Sandra.

MULTIDÃO
- Justiça! Justiça! Justiça!

FADE OUT.

JUIZ MAURÍCIO FOSSEN (NARRAÇÃO EM OFF)
- Em razão dessa decisão passo a decidir que a pena seja imposta a cada um dos acusados em relação a este crime de homicídio pelo qual foram considerados culpados pelo conselho de sentença.

FADE IN.

EXT. FÓRUM - NOITE

REPÓRTER GLOBAL
- Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são considerados culpados pelo homicídio da filha e enteada Isabella Oliveira Nardoni. O juiz Maurício Fossen continua a leitura da sentença e relata agora a pena do casal. O curioso é que a população que permaneceu na entrada do fórum durante todo o dia, ainda não se manifestou. Talvez devido ao jargão jurídico, a população parece ainda não ter entendido que o casal foi considerado culpado.


Um CIDADÃO, 60, ouve o que o repórter disse e reage.


CIDADÃO
(histérico)
- Eles foram condenados? Eles foram condenados! Eles foram condenados!


A multidão grita em uníssono. As pessoas levantam cartazes que clamavam por justiça. Idosas se abraçam. Adolescentes riem.


Fogos de artifício rompem os céus. A população comemora com alegria.


INT. CARRO DA POLÍCIA - NOITE


ALEXANDRE NARDONI, 45, abatido, algemado, observa os fogos pela janela do carro. Um POLICIAL, 35, está encostado ao carro. Ele observa ANNA JATOBÁ, 26, magra, algemada, entrando em outro carro da polícia.


Ela olha para Alexandre. Então, abaixa a cabeça e desaparece por trás do insulfilm da porta do carro que se fecha.


O policial volta sua atenção para Alexandre. O prisioneiro mantém o olhar fixo no carro onde está Anna Carolina.


POLICIAL
- Se isso aqui fosse um filme de Hollywood, essa ia ser a parte que íamos ver um flashback onde a gente ia descobrir se vocês eram culpados ou inocentes.


Alexandre olha para os fogos de artifício que estouram no céu.


ALEXANDRE
- Só que isso aqui não é filme. Não é Big Brother.
(olhando nos olhos do policial)
Isso aqui é a vida real.


FADE OUT.


O som dos fogos de artifício torna-se ensurdecedor.


FIM.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Vim, Vi, Curti (Ou NãO)

THÉATRON: Dois perdidos numa Noite Suja, dir. Sílvio Guindane, Teatro Vanucci.

Produção de Fernando Dolabella traz o texto de Plínio Marcos para o shopping da Gávea. Aula de interpretação e incorporação de um personagem: André Gonçalves. Arrebenta.






BETAMAX: Guerra ao Terror/The Hurt Locker, dir. Kathryn Bigelow, USA, 2009.

Tenso. Sutil em sentimentos. A transição final é maneira. Bom filme, apesar de ter ganho o Oscar...

Plastic City - Cidade de Plástico/Dangkou, dir. Nelson Yu Lik-wai, Brasil-China-Hong Kong-Nippon, 2008.

A ideia é em cima de um contrabandista japonês no centro de São Paulo (claramente baseado no chinês Law Kim Chong) e seu filho adotivo. Nelson Yu Lik-wai é melhor como fotógrafo do que como diretor. Visualmente cativa, mas a história é arrastada. A dublagem em português do filho adotivo incomoda.

KINO: Um Homem Sério/A Serious Man, dir. Coen Brothers, USA-UK-France, 2009.


Um colega de faculdade, que me introduziu aos filmes dos Coen Brothers, após ver O Brother Where Art Thou/E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (a tradução brasileira é ridícula visto que o título original é em inglês arcaico e a tradução usa gírias contemporâneas), disse: É um filme em que os Coen Brothers tentam ser os Coen Brothers.

Ao terminar de assistir Um Homem Sério, a frase desse colega veio imediatamente à minha cabeça. Ao invés de serem eles próprios, imitaram a si mesmos. Engraçadinho, mas longe do talento que lhes é inerente.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Locações in Loco - Desfile das Campeãs

1) Asas e pés brilham.
2) Verde e Rosa... e Amarelo
3) Salgueiro iluminado
4) Dilema inexistente do Policial: fotografo Vivi Araújo ou faço a segurança do Sambódromo?
5) O Fim do Carnaval

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Locações in Loco

1) WC THC
2) Girassol solitário

3) La Boca

4) A Rainha da Rocinha
5) Luzes da Sapucaí
6) A Distração gera o Bote

7) Contramão do Arcanjo


Photos by Venturi (13/02/2010 Desfile da Rocinha no Sambódromo pelo grupo de acesso. Meu 4º ano cobrindo o carnaval na avenida):

1) Banheiro químico na concentração da Av. Pres. Vargas.
2) Folião aguarda para colocar fantasia na concentração.
3) Fantasia colorida de um folião da Rocinha.
4) Eu, profissionalmente olhando para a câmera.
5) O esplendor do Sambódromo visto do camarote da Rio Samba Carnaval.
6) Cabe à interpretação de cada um.
7) Caminhando para casa (impossível pegar um taxi), passando pela R. Riachuelo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Comentário Lampejante

The Horror! The Horror! Fiquei paralisado ao ver a lista dos 10 livros mais vendidos no país. Tem alguma coisa errada num mundo literário em que um único autor consegue emplacar 5 de seus livros no top 10. J.R.R. Tolkien é o nome da criança e Senhor dos Anéis é o nome de sua praga, quer dizer, obra. Stephenie Meyer, autora dos eclipses lunares, tinha 3 livros na lista.
Estão todos lendo o mesmo? Não existem mais autores brasileiros?

Caaaaaaaaan't live... Na lista dos dez discos mais vendidos de 2009, o abençoado Padre Fábio de Melo tem 3 discos. Victor e Léo têm também 3 discos na lista.

Estão todos ouvindo o mesmo? Não existem mais bandas estrangeiras?

A qualidade dos bestsellers sempre foi duvidosa, mas pelo menos era mais variada...

Caricatura Lord of the Rings: http://www.courtjones.com/illustration.html

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Calvário Feroz: Aplauso ERETO para a PeÇa EscoceSA. Parte IX

Debatido e comentado exaustivamente em diversas postagens deste blog; todos sabem que o curta que rodei no ano passado foi um plano sequência. Mesmo assim continuo ouvindo a pergunta: Já editou? Parece uma pergunta sem lógica visto que não existem cortes a serem feitos, mas no fundo, tem razão de ser. Só que, a edição está no som.

Pela primeira vez trabalho com um técnico de som profissional e também estreio no desenvolvimento de uma trilha sonora original.

Nos meus filmes anteriores, eu mesmo fiz a mixagem (no primeiro não foi preciso porque era um curta em super-8, ou seja, mudo). No segundo (Out of the Prohibition Era) atingi um resultado satisfatório, mas no terceiro (Zero Hora), nem tanto. O Zero Hora foi selecionado para o festival de Brasília - uma honra- mas creio que não entrou em muitos outros festivais devido a problemas no áudio. O filme sempre foi elogiado quanto ao seu conteúdo e direção, mas sempre recebeu críticas quanto ao som. Fiquei muito revoltado ao assistir curtas pífios em festivais que recusaram o meu filme. A aceitação pelo júri/público e seus subsequentes aplausos são a razão de viver do cineasta.
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Fui assistir a um ensaio aberto de MacBeth dirigido por Aderbal Freire Filho e com Daniel Dantas como protagonista. Reza a lenda que MacBeth é uma peça amaldiçoada. Os supersticiosos teatrais se recusam a chamá-la pelo nome, referindo-se a ela apenas como a "Peça Escocesa". Minha cunhada, que é portuguesa, acompanhava-me.
Aparentemente, a maldição voltou a atacar. O ar condicionado quebrou, Daniel Dantas e companhia cuspiam o texto, impossibilitavam qualquer arco dramático e a ação movia a passo de caracol. Se eu estava suando, imagina os atores com figurino repleto de casacos pesados...

No final, o público aplaudiu de pé. Olhei para minha cunhada que não entendia nada. Curiosamente, não era pela lendária burrice atribuída aos Lusitanos. Era justamente o contrário. Portugal tem uma história teatral que iniciou-se no século XV com o dramaturgo Gil Vicente. O teatro brasileiro começou a aquecer em meados do século XX. São cinco séculos de diferença.
Nos teatros lisboetas é inconcebível que se aplauda uma peça que seja menos que estupenda. Aqui no Brasil qualquer - repito: qualquer- peça é aplaudida de pé. O nosso senso crítico para as artes está no chão. O termo "aplaudido de pé" já não tem qualquer valor.

Conheço vários atores que odeiam a crítica teatral Bárbara Heliodora. Eles dizem que ela é cruel e que destrói carreiras. Pois eu adoro a Bárbara Heliodora. É a única que tem coragem de dizer com classe mordaz que uma peça está uma merda. Se a Bárbara fosse crítica de televisão, a Rede Globo mandaria matá-la na primeira resenha sobre Malhação.

Minha cunhada continuou martelando sobre o ridículo aplauso ereto e não aguentando mais, eu disse: "Tá, mas os brasileiros são muito melhor atores que os portugueses". Enfim, o silêncio. Quem cala, consente.
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Cidadão Kane tem uma das mais famosas cenas de aplauso da história. O protagonista vivido por Orson Welles tenta emplacar sua amante como cantora de ópera. Ele que sempre conseguiu tudo devido ao seu imenso poder na mídia, não consegue que os críticos elogiem sua cônjuge (ela é ruim de dar dó). Chega ao fim mais uma de inúmeras apresentações fracassadas. O público sequer aplaude. Irritado, o magnata levanta-se e começa a aplaudir insanamente. Só se ouve sua ovação. Patético, impotente, ele para e senta-se.
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A trilha sonora do meu filme - Ferocidade: entre a Urbe e a Flora- tem evoluído entre gaitas e sons de cigarras. Espero concluir essa mixagem até o início do carnaval. Quero esse filme pronto logo. Quero que as pessoas assistam. E mais que tudo, QUERO que me aplaudam- sentados ou em pé.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O que aconteceria se VOCÊ não tiveSSe MeDo?

Li o título desta postagem num grafite na Tijuca. Voltava de carro com a minha mulher e a pichação estava num prédio, num 5º ou 6º andar. Será que o pichador teve medo de subir tão alto?
As palavras me afetaram porque estava pensando em algo parecido nos últimos meses (e escrito várias postagens sobre isso no blog): O que aconteceria se EU não tivesse medo de tentar?
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Sempre me considerei El Niño do talento. Uma força devastadora que atropela tudo com sua originalidade. As pessoas falam sobre a minha força de forma positiva. No entanto, o ciclone Márcio permanece estático no oceano da procrastinação, sem nunca dar as caras em terra para mostrar seu poder de "destruição". Preferi ser um tufão famoso nas águas do que encarar a possibilidade de perder minha potência e me tornar um redemoinho em terra firme.
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Em Gênio Indomável, o protagonista vivido por Matt Damon tem um QI mil vezes superior ao dos outros reles mortais. No entanto, o medo de ser tão diferente de seus amigos proletários de infância o impede de buscar qualquer objetivo na vida que não seja se meter em confusões e de pular de um emprego chinfrim para outro. Ele trata sua alta capacidade intelectual como uma maldição que o afasta da normalidade que ele supostamente almeja. A contradição surge quando ele não resiste a resolver equações matemáticas altamente complexas ou a demonstrar que conhece de cor livros de economia. Tais atitudes demonstram que ele gosta de possuir um conhecimento exacerbado, mas assim como um feiticeiro demasiadamente poderoso, teme seus próprios poderes. Good Will Hunting é daqueles filmes comerciais hollywoodianos que sempre me dão intenso prazer em assistir até o final, quando tudo acaba bem. Acho que sempre gostei do filme porque assim como o protagonista, sempre me achei um cara que mantém o seu talento recluso com temor da opinião alheia. Um artista vive para ter um público, mas esse público pode ser fã ou inimigo, e, todos temem seus inimigos.
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O medo serve como um alerta para situações que consideramos perigosas, sejam elas físicas ou psicológicas. O medo pode ser benéfico ou maléfico, dependendo de sua intensidade ou constância.

O que aconteceria se NINGUÉM tivesse medo? Veríamos o Baixinho da Kaiser enfrentando o Vitor Belfort. As velhinhas dirigiriam a 200 km/h. O mundo seria um caos.

Quando era adolescente, briguei com dois caras que me meteram o cacete. Só fiquei com a boca inchada porque o dono do bar interviu e isso me deu tempo de levantar e sair fora. Caso o dono da birosca não tivesse entrado no meio da confusão, não sei em que estado teria saído de lá. A briga só começou porque eu me senti na obrigação de machão de defender uma menina que eu mal conhecia. Fui petulante e inconsequente e me ferrei.

Foi quando ouvi pela primeira vez a frase: "É melhor ser um covarde medroso vivo, do que um herói corajoso morto." Já tinha ouvido - "Quem tem cú, tem medO" - mas por alguma razão não tinha achado muito filosófico. Hoje, acredito que não posso ser um covarde ou herói 100% do tempo, e sim, mesclar ambos nos devidos momentos. O herói que enfrenta porteiros de boate, briga com desconhecidos ou pula de paraquedas já existe há alguns anos. Esse herói só me deu problemas. Desejo que surja o herói que escreve sem parar, que desenvolve seus projetos e luta por seus sonhos e objetivos de vida.

Se o filme 2012 estiver certo e o mundo for mesmo acabar daqui há dois anos, tenho pouco tempo. O furacão precisa chegar logo em Vera Cruz.

Imagens: 1-foto título: http://s419.photobucket.com/albums/pp271/misstybooo/?action=view&current=Fear_by_seppe123.jpg&newest=1

2-O Grito de Edvard Munch.