quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Calvário Feroz: Olhar de Medusa. Parte VIII

Um plano sequência no parque da Tijuca em pleno feriado. Tudo preparado para o desastre. A câmera passa e a tendência dos transeuntes é olhar diretamente na lente. Quando continuam andando, a equipe está no lucro, porque a maioria empaca ao ver a câmera. É impressionante! Assistentes de produção pedem para as pessoas continuarem andando, mas elas não conseguem.O poder da câmera é intenso, hipnotizante. A câmera faz o papel da Medusa que transformava em pedra aqueles que ousavam olhar diretamente em seus olhos.
Um assistente de produção segurava o trânsito, outro controlava o estacionamento, outro impedia a passagem de pessoas por uma trilha e outro agarrava os que apareciam do nada. Obviamente não era o suficiente. Um take, que na hora quase me causou um infarto de ira, agora me faz rir: o protagonista caminha, demonstrando toda a sua preocupação, e, ao fundo vê-se uns 10 curiosos que observavam a filmagem. Todos com os olhos em Medusa.

O dia serviu de ensaio. Não consegui um único take na lata ou cartão HD. O som estava imprestável devido a um problema no equipamento (fato ocultado para não causar pânico entre todos os envolvidos no filme). Dormir, pensar, resolver.
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Presente: Aguardo as horas para dirigir-me à ilha de edição da Faro Multimídia onde o editor me aguarda. Em um dia mato os efeitos especiais e tons de cinza e cor. Não tenho que fazer cortes, como tal, o maior desafio será a trilha e efeitos sonoros. Esse trabalho auditivo será feito nos estúdios da Casa de Som da família Saldanha. Craques.
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Dia 2. Parque vazio. Equipe a postos. Manhã incandescente.
Um equipamento de som, munido de inúmeros microfones lapela e uma vara de boom wireless surgem no segundo dia. Mais assistentes de produção contribuindo com eficácia. Máquinas azeitadas. Quatro takes para poder escolher na sonífera ilha de edição.

Som ok? Câmera? Palmas. Lágrimas inundam meus olhos. Agarro o assistente de direção e não largo. Emoção transformada em abraço.

A desprodução inicia. Vou para o meio do mato. Sento-me à beira do rio que não se chamava Piedra, caro Paulo Coelho.

Nunca bebi água tão fresca.

(da esquerda para a direita. em pé: Pedro Fasanello, direção de arte; Mariana, maquiagem; Yan Saldanha, som; Adriano Guerra, assistente de direção e boom; Beto Thomé, steady cam; Fernando Dolabella, ator; José Amarílio Jr, direção de fotografia. sentados: Marina Rigueira, atriz; Pedro Piu, assistente de produção; Cláudio Barros, produtor; Eu; Laura Carvalho, claquete e assistente de produção; Márcio Vito, ator.)