quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Calvário Feroz: Olhar de Medusa. Parte VIII

Um plano sequência no parque da Tijuca em pleno feriado. Tudo preparado para o desastre. A câmera passa e a tendência dos transeuntes é olhar diretamente na lente. Quando continuam andando, a equipe está no lucro, porque a maioria empaca ao ver a câmera. É impressionante! Assistentes de produção pedem para as pessoas continuarem andando, mas elas não conseguem.O poder da câmera é intenso, hipnotizante. A câmera faz o papel da Medusa que transformava em pedra aqueles que ousavam olhar diretamente em seus olhos.
Um assistente de produção segurava o trânsito, outro controlava o estacionamento, outro impedia a passagem de pessoas por uma trilha e outro agarrava os que apareciam do nada. Obviamente não era o suficiente. Um take, que na hora quase me causou um infarto de ira, agora me faz rir: o protagonista caminha, demonstrando toda a sua preocupação, e, ao fundo vê-se uns 10 curiosos que observavam a filmagem. Todos com os olhos em Medusa.

O dia serviu de ensaio. Não consegui um único take na lata ou cartão HD. O som estava imprestável devido a um problema no equipamento (fato ocultado para não causar pânico entre todos os envolvidos no filme). Dormir, pensar, resolver.
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Presente: Aguardo as horas para dirigir-me à ilha de edição da Faro Multimídia onde o editor me aguarda. Em um dia mato os efeitos especiais e tons de cinza e cor. Não tenho que fazer cortes, como tal, o maior desafio será a trilha e efeitos sonoros. Esse trabalho auditivo será feito nos estúdios da Casa de Som da família Saldanha. Craques.
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Dia 2. Parque vazio. Equipe a postos. Manhã incandescente.
Um equipamento de som, munido de inúmeros microfones lapela e uma vara de boom wireless surgem no segundo dia. Mais assistentes de produção contribuindo com eficácia. Máquinas azeitadas. Quatro takes para poder escolher na sonífera ilha de edição.

Som ok? Câmera? Palmas. Lágrimas inundam meus olhos. Agarro o assistente de direção e não largo. Emoção transformada em abraço.

A desprodução inicia. Vou para o meio do mato. Sento-me à beira do rio que não se chamava Piedra, caro Paulo Coelho.

Nunca bebi água tão fresca.

(da esquerda para a direita. em pé: Pedro Fasanello, direção de arte; Mariana, maquiagem; Yan Saldanha, som; Adriano Guerra, assistente de direção e boom; Beto Thomé, steady cam; Fernando Dolabella, ator; José Amarílio Jr, direção de fotografia. sentados: Marina Rigueira, atriz; Pedro Piu, assistente de produção; Cláudio Barros, produtor; Eu; Laura Carvalho, claquete e assistente de produção; Márcio Vito, ator.)

sábado, 31 de outubro de 2009

Calvário Feroz: O mentor aconselha...Parte VII

"Garanto que estresse demais imobiliza a criatividade (...) quanto mais o artista sofre, menos criativo ele fica (...) A essa altura alguém pode mencionar Vincent Van Gogh, como exemplo de um pintor que fez coisas maravilhosas a despeito ou por conta do sofrimento. Acredito que Van Gogh teria feito coisas ainda mais maravilhosas se não fossem pelas restrições impostas pelo sofrimento."
Em águas profundas, David Lynch

Amanhã começamos o processo de filmagem do curta Ferocidade: entre a Urbe e a Flora. Nunca estive tão calmo. Ficava uma pilha de nervos antes, e, principalmente durante a filmagem.

Acho que filnalmente compreendi que não adianta estressar. Hoje, tenho a consciência de que mil imprevistos irão acontecer e que isso é normal. Não posso fazer mais nada para evitá-los. Eles acontecerão e eu e toda a equipe iremos contorná-los. É como estressar no dia anterior à uma prova. Não adianta nada. Se você estudou, não tem com quê se preocupar. Se não estudou, não adianta estressar porque nada vai mudar o fato de não ter estudado.

Acho que a experiência destes últimos anos também ajudou bastante para que essa "calmaria" tenha se apossado de mim.

Lynch tem razão. Como sempre.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tarantino é o caralho, foda mesmo é o LaRs VoN TrIEr

Para aqueles que estão acostumados com meus títulos intelecto-pseudo-prepotentes, mas que nunca tiveram termos chulos, peço desculpas. Os referidos palavrões nada mais são do que uma forma de chamar a atenção para o cúmulo da arrogância que se apossou de mim.
Confesso que ao sair do cinema após assistir Anticristo (Antichrist, dir. Lars Von Trier, Danmark-Deutschland-France-Svenska-Italia-Polska, 2009) fiquei extasiado e irritado. Extasiado por ter visto uma obra prima e irritado por todos só falarem dele: Quentin Tarantino e seus Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, dir. Quentin Tarantino, USA-Deutschland, 2009). Mesmo sem ter visto o filme de Quentin, gritei no meio da rua: Tarantino é o caralho, foda mesmo é o Lars Von Trier.
Como era possível que não tinha ouvido ninguém comentar sobre Antichrist???? Um filme primoroso, bem construído com apenas dois atores, com cenas super poderosas e chocantes e que me faz refletir até ao momento em que agora escrevo. A fotografia é revolucionária e Von Trier faz uso de um super-slow (obtido com uma câmera Phantom HD) que Tarkovsky não imaginaria ser possível (Von Trier dedicou o filme ao mestre russo, o que causou incômodo entre os críticos franceses no Festival de Cannes). Anticristo tem uma das melhores aberturas que já vi. No entanto, só me cuspiam no ouvido elogios à maestria de Tarantino e seu novo filme. Vi o trailer do filme em que Hitler grita: Nein! Nein! Nein! cortando para um Brad Pitt gritando: Yes! Yes! Yes!. Como seria possível que algo assim desse num bom filme?
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Ontem resolvi ir ver o filme bastardo. Numa caminhada que não durou nem 10 minutos, comecei a sentir como se já andasse há horas. Foi quando me apercebi que estava ansioso e excitado para ver o filme de Quentin. Lembrei de quanto fui injusto com ele ao dizer várias vezes que Pulp Fiction não era uma obra de arte. Logo eu que me impressionei profundamente ao ver esse filme em 94. Achei o filme tão revolucionário que influenciou várias coisas que escrevi depois. Cheguei a apostar com o meu pai que o filme ganharia todos os Oscars (naquela época ainda assistia aos Oscars, acreditava em Papai Noel e que o Brasil seria a potência do final do século XX).
Mas aí, fui para a faculdade de cinema. Assisti aos mestres russos, à nouvelle vague, aos clássicos americanos da década de 70... Revi Cães de Aluguel e tudo me parecia falado demais, longo demais, falso demais. O entretenimento puro me parecia menor se comparado à um Ran ou à um Taxi Driver. Hoje, consigo diferenciar um Duro de Matar dum Fellini 8 e meio e apreciar ambos pelos seus próprios méritos.
Quando estava quase chegando ao cinema, senti que tinha injustiçado Tarantino durante vários anos. Tanto que volto agora a colocar Pulp Fiction na minha lista de obras primas do blog.
Tudo bem que ele fez o entediante Kill Bill vol.2, mas não posso censurá-lo. O projeto inicial era de um filme só com 180 minutos. Mas a máquina de fazer dinheiro, Harvey Weinstein, convenceu o diretor a fazer o filme em duas partes. Por isso que tudo de bom está no vol.1 e toda a encheção de linguiça está no vol.2 (já tive até vontade de editar as duas partes e aí sim transformar Kill Bill em obra prima). Tudo bem também que ele fez o chatérrimo Death Proof, mas isso era um projeto juntamente com o Robert Rodriguez de emular os filmes trash da década de 70. Era só experimentalismo. Um experimentalismo corajoso (e deve ter feito essa experiência fumando crack para conseguir fazer um autêntico filme ruim e trash). "Pobre Quentin. Como te injusticei" - pensei.
Ao comprar o ingresso para o Inglourious Basterds, tive a certeza que assistiria ao melhor filme de Quentin Tarantino.
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Quando vi Os Doze Condenados, fiquei extasiado. O Lee Marvin botando para quebrar. O roteiro macho e eficaz. E nunca tinha visto tantos bons atores em um mesmo filme: Ernest Borgnine, Donald Sutherland, Jim Brown, Robert Ryan, Telly "Kojak" Savalas, John Cassavetes e...
- Papai, como se chama aquele cara dos Doze Condenados? Aquele do Sete Homens e um Destino? Aquele do bigodinho.
Meu pai ria, já profetizando que eu ainda iria ver muita coisa do genial übermann CHARLES BRONSON.
Os Doze Condenados, Era uma vez no Oeste e Agonia e Glória são a base inspiradora para o novo filme de Tarantino (Quel Maledetto Treno Blindato de 1978, que em inglês se chamou Inglorious Bastards, nada mais é que um filme que Tarantino adorou e usurpou o título colocando uma grafia errada. A única semelhança é que ambos se passam na II Guerra Mundial). Como todos sabemos, Tarantino constrói todos os seus roteiros em homages dos filmes que gosta.
Sergio Leone e Sam Peckinpah são dois cineastas que o influenciaram enormemente. Leone copiou seu próprio estilo em Quando Explode a Vingança. Peckinpah copiou seu próprio estilo em Elite de Assassinos. Ambos tiveram resultados desastrosos.
Tarantino, o cara que faz o plágio se tornar original, plagiou da única pessoa que não poderia ter plagiado: ele mesmo.
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Inglourious Basterds é fraco. Poderia dar mil razões para escrachar, trucidar, arrebentar e violentar o filme, mas não o farei em respeito a quem ainda quer assisti-lo. Tento controlar a impetulante arrogância que volta a se apossar de mim.
Digo apenas que pesquisando para este post (já estou aqui há mais de 3 horas, o que prova o meu respeito por Tarantino apesar desse último fiasco), encontrei um vídeo em que ele enumera os seus 20 filmes favoritos nos últimos 17 anos (infelizmente está sem legenda) e tchan tchan tchan tchaaaaaaaaan...!!!::::: ELE INSERE DOGVILLE DO LARS VON TRIER ENTRE ESSES 20 FAVORITOS.

Portanto, só tenho uma coisa a dizer: Tarantino é o caralho, foda mesmo é o LaRs VON tRIEr.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Vim, Vi, Curti (Ou NãO)


Betamax - Watchmen, dir. Zack Snyder, USA, 2009.

Dos melhores filmes de super-heróis que já vi. Com um roteiro bom, a tecnologia atual permite que os quadrinhos sejam cada vez mais bem adaptados. Zack Snyder já tinha mandado bem em 300, que é um filme sem roteiro só de porradaria, e agora com um roteiro sólido, se esbalda. Este filme faz para as adaptações de quadrinhos, o que Moulin Rouge fez pelo musical. Ou seja, expõe a base do gênero retratado e destrincha, altera e parodia seus clichês sem deixar de ser fiel às origens.

sábado, 3 de outubro de 2009

Comentário Lampejante

Quando anunciaram que o Rio sediaria as Olimpíadas de 2016, o Lula e o Sérgio Cabral se abraçaram. No entanto, alguém reparou no salto de felicidade protagonizado pelo Eduardo Paes? O prefeito carioca pulou mais alto que a Yelena Isinbayeva. Muita grana vai rolar na prefeitura do Rio de Janeiro...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Locações in Loco





Voltando de Belo Horizonte pedi para minha mulher parar em Congonhas. Não conhecia as esculturas dos 12 Profetas de Aleijadinho. Uma visão deslumbrante. Cinema Puro!

fotos tiradas no meu celular de 1 mp.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Calvário Feroz: Entre os gols da Seleção e o Tango, a Vida Imita a Arte. Parte VI.

Tudo pronto. Luzes: não são necessárias porque o filme é ao ar livre. Câmera: alugada. Ação: impossível. O diretor está imóvel.
Com exceção do figurino, que ainda precisava de algumas peças, tudo estava praticamente pronto. Faltava apresentar a locação para os atores se ambientarem e esperar o fim-de-semana passar para começarmos a gravar (a ação se passa no Parque da Floresta da Tijuca e durante o fim de semana o fluxo de turistas é muito grande).
No início da semana, eis que a gloriosa Rede Globo decide expandir a novela Caminho das Índias por mais duas semanas. O protagonista do meu curta está na novela, inviabilizando a nossa filmagem nos dias 31 de Agosto, 1 e 2 de Setembro. Só poderíamos rodar no meio de Setembro. Obviamente, isso não era culpa do protagonista que apenas cumpria seu contrato com a Globo, mas a necessidade de remarcar o filme deu uma quebra na produção.
Todos no filme estão trabalhando “por amor” (termo atenuante que significa trabalhar de graça) e ao remarcar a data de filmagem, o ritmo de trabalho de todos parou por completo. A culpa disso é única e exclusivamente minha.
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Justamente no dia em que escrevi pela última vez neste blog, fui para a minha famigerada pelada. Eu sou um convicto perna de pau, mas mesmo assim, insistem em me escalar como centro avante. Isso se deve ao fato de um inspirado e milagroso dia em que permaneci na banheira e marquei quatro improváveis gols. Eis que ao disputar uma bola bruscamente, como se estivesse num campeonato profissional, piso errado e deposito o peso do meu corpo em cima do pé esquerdo. Fratura!!! Para aqueles que não me conhecem, sim, sou eu na foto que ilustra esta postagem. A vida imita a arte visto que o personagem do filme está com a perna quebrada e anda de muletas durante todo o filme. Pelo menos agora consegui a muleta que precisava para o filme…
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Meu pai tinha marcado uma viagem para que nós fossemos à Argentina ver o jogo do Brasil. Coincidentemente estava marcada para o dia 3 de Setembro, um dia depois do que seria a filmagem. O filme estava cancelado momentaneamente e não deixaria que um pé quebrado me impedisse de viajar.
Fui, subi o estádio de muletas, gritei, pulei igual Saci com os gols históricos da seleção e só não dancei tango porque aí já seria demais. Voltei com as mãos quase em carne viva por causa das muletas e hiper-cansado. Meu pé latejou por uma semana que fiquei na cama sem vontade sequer de ir ao banheiro. O curta que tentava rodar desde o começo do ano estava adiado novamente. A imobilidade me trouxe a um estado de semi-depressão. Me lembrei muito de 8½, filme de Federico Fellini em que um diretor de cinema em crise da meia-idade não consegue rodar um filme. Ele enrola o produtor e os atores e o filme nunca acontece.
Hoje me lembrei também de um filme pouco visto chamado Coração de Caçador (White Hunter, Black Heart), o primeiro filme que vi com Clint Eastwood. Vagamente inspirado na filmagem de Uma Aventura na África (African Queen) dirigido por John Huston, Eastwood interpreta o diretor que abandona as filmagens constantemente para caçar elefantes na África. O rosto de Clint na última cena do filme (talvez sua melhor interpretação facial de todos os tempos) passa toda a sua decepção com o mundo cinematográfico e com sua pouca vontade de estar ali dirigindo aquele filme.
Numa escala infinitamente menor, sinto-me várias vezes “deprimido” com meus projetos. As dificuldades e obstáculos que consistem rodar um filme me colocam à prova o tempo todo. “Caramba, já tenho 30 anos”, repito em minha mente. Acho que isso se deve ao fato de nunca ter realmente experimentado o gosto do sucesso. Não o da fama, mas o sucesso comigo mesmo, de me sentir querido como artista. Já participei de festivais e meus filmes sempre foram bem recebidos pelo público, mas falta algo…
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Minha barba é rala e cheia de falhas. Quando fico com preguiça e não a faço, é uma visão ridícula. É como aquele bigodinho ralo de mexicano que os adolescentes adoram exibir. Decidi não fazer a barba até que consiga rodar o filme. Ontem, a mulher do protagonista me perguntou se era promessa. Não, é castigo mesmo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Calvário Feroz: rough cut do corte bruto sem TubarÕeS. Parte V


George Lucas mostrou um rough cut de Star Wars a um grupo de cineastas. O corte bruto significava que o filme estava montado numa sequência lógica mas sem preocupações com transições suaves ou cenas demasiado longas. Nesse corte também não estavam incluídos nenhum dos efeitos especiais, que foram substituídos por cartelas com fotos ilustrativas. Foi a galhofa. Os cineastas acharam ridículo. Sem ver os efeitos especiais, Steven Spielberg, foi o único na platéia, que achou que o filme seria um sucesso.
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Já rodei oito planos sequência completos em dois dias de ensaios com câmera. Usei meu assistente nos três primeiros planos e depois meu produtor, o diretor de arte e sua assistente. A patota toda que me atura. Todo mundo fala ao mesmo tempo, executam interpretações questionáveis, brincam. Tudo está valendo porque o que importa é a cronometragem e a movimentação de câmera. Desde que façam a ação, tá tudo certo. Quando vejo os ensaios em casa, rio de algumas partes. Acho que quando o filme estiver na lata, vou me rir muito mais. Creio que um leigo que visse tal encenação, nunca acharia que um filme poderia sair dali. Não o censuraria.
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Tenho visto Janela Indiscreta para ver a técnica do Hitchcock de criar tensão e suspense através de planos longínquos. Os olhos de James Stewart passeiam pelos apartamentos vizinhos em longos planos sequência. As ações têm que ser firmes para que à distância o público possa compreender. Tudo tem que ser marcado e claro. Lento. Nos nossos ensaios, à distância não vejo direito o diretor de arte e sua assistente que interpretam uma mulher e seu carrasco no filme. Eles estão bem longe da câmera e ela leva um tapa e é arrastada para dentro da mata. O fato dos dois não serem atores e ficarem completamente estáticos, não ajudou. Preciso dos atores. Só que o ator principal está gravando o final de uma novela e o outro ator está em São Paulo. Sinto numa escala microscópica o que os estúdios de Hollywood passam quando têm que adiar seus filmes porque os protagonistas ainda estão em outros projetos. Mas não posso reclamar, visto que todos estão fazendo o filme por amor e confiança. Mas, mesmo assim, me sinto como o Spielberg rodando Tubarão sem o tubarão. O tubarão vivia dando problemas, por isso Spielberg apelou para sua criatividade e fez um filme onde o tubarão quase não aparece. Ensaiemos sem os tubarões, então.
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Creio que se mostrasse os ensaios para um Spielberg brasileiro, ele diria que este vai ser o meu melhor filme. Não o censuraria.
Foto Garota e Tubarão por Mike Berceanu.
Quadro "Watson and the Shark" por John Singleton Copely.
Quadro "Watching the sharks at Monterey" por Benoit Philippe.
Spielberg e o Tubarão por Universal Pictures.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Comentário Lampejante

Para qualquer lugar que vá, olhe, circunde e me aproxime, ouço Michael Jackson. Tem uns 18 anos que não vejo o cara tão popular.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NãO)



KINO- Se, Jie/Lust, Caution/Desejo e Perigo, dir. Ang Lee, USA/China/Hong Kong/Taiwan, 2007.


Tony Leung arrebenta como sempre. Um protagonista sombrio e silencioso como só ele sabe fazer. O filme é primoroso em todos os aspectos técnicos. Se não fosse a longa duração, seria uma obra prima.




KINO2- À Deriva/Adrift, dir. Heitor Dhalia, Brasil, 2009.

Uma diferença fundamental entre Heitor Dhalia e a maioria dos cineastas brasileiros, é que ele faz filmes universais enquanto os outros fazem filmes regionais. Nota-se isso logo na abertura de À Deriva. A música, os enquadramentos, ações que dispensam palavras. Poderíamos transportar a narrativa para qualquer lugar do mundo que o filme seria o mesmo. À Deriva é bom, mas não chega a ser genial como O Cheiro do Ralo. Parece que o diretor decidiu fazer algo mais light para descansar do clima pesado de seu filme anterior. Acertou na mosca. Um filme sensível, calmo e honesto. Dhalia é o cineasta brasileiro mais excitante desde que Fernando Meirelles apareceu com Cidade de Deus. Aguardo ansiosamente seu próximo filme e tenho muita curiosidade em ver seu filme de estreia, Nina.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Prozac da Semana

Trabalhei durante algum tempo da minha vida vendendo quadros. Serigrafias, Óleos, Posters, Aquarelas. Já vi muita coisa. De Vermeer a Kandinsky. Há muito tempo não via um trabalho tão interessante e inspirador (aberrante também) como o de Ray Caesar. Um amigo viu num blog, eu vi no blog dele e apresento agora no meu blog. Numa semana atarefada, o trabalho desse artista foi o Prozac que eu precisava. Ray Caesar é puro cinema.

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Calvário Feroz: Enquanto a grama cresce, o cavalo passa fome. Parte IV

Vendo que os atores do filme não teriam tempo de ensaiar durante a semana passada e, na ausência de minha patroa, decidi ir a BH visitar minhas avós e um amigo.
Nas 5 horas em que dirigia, tentava elucidar-me de motivos emocionais para cada parte do filme, a fim de saber onde posicionar a câmera e ter um porquê para tal. Missão ingrata devido a estúpida necessidade de prestar atenção na estrada e nas belas paisagens que circundavam o veículo.

Tagarelei com avós, primos, tios e amigo e nos momentos de pausa, li. Busquei na "biblioteca" um livro que falasse de cinema, de preferência, com uma história de superação. Encontrei Brando - Canções que minha Mãe me Ensinou.

Típico exemplo do mito americano do self made man, Marlon Brando passou de caipira a ícone do teatro e cinema. Aluno de Stella Adler, Brando revolucionou o método de interpretação, trazendo naturalidade e realismo a seus personagens. A sua geração e todas as seguintes foram influenciadas por ele. Basicamente, muitos americanos (e não só) consideram-no o maior ator de todos os tempos.

O que me chamou a atenção em sua biografia foi o fato dele querer sempre trabalhar o mínimo possível. Inventava doenças, desaparecia do set e reescrevia seus diálogos com intuito de diminuir a sua participação no filme. Um ator considerado genial, que queria fazer o seu trabalho o mais rápido possível para poder voltar para sua ilha no Taiti, suas pescarias e suas nativas da Polinésia.
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Teve uma época que sentia vergonha de mim mesmo por me sentir angustiado e tenso durante a realização de um filme. Minha vontade era que aquilo acabasse logo. Queria que todos os atores, aquelas luzes e refrigerantes repletos de cafeína sumissem da minha frente. Todos os prazeres do processo cinematográfico são para mim altamente torturantes e masoquistas. O único prazer pleno, puro e virginal é assistir ao filme pronto. Ponto final.

Decidi não mais ter vergonha disso e assumir, contentar-me. Prefiro não entrar na parte psicológica do porquê de tamanha angústia ao filmar, mas posso dizer que deve-se em grande parte ao fato de temer o fracasso. Esse temor, faz com que sofra durante atrasos na iluminação, erro de atores e mudanças climáticas. Mantenho-me num estado de incessante controle artístico que busca pela "perfeição" a todo instante que se choca com um estado de incessante vontade que aquilo tudo acabe logo. O embate desses dois estados de alerta esgotam-me de tal forma que parece que filmei durante um ano.
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Apercebi-me hoje que faltam 20 dias para o início das filmagens. Entrei em TPF (tensão pré-filme) e sucumbi à vontade de comprar um maço de cigarros. Parar de fumar é ainda mais difícil do que dirigir um filme.
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Quando Júlio César venceu a batalha de Zela, na atual Turquia, ele escreveu: Vim, Vi, Venci. Brinco com essa frase aqui no blog no espaço que dedico à dar opinião sobre filmes que vi recentemente (Vim, Vi, Curti - ou Não).

Sempre tive o hábito de pensar nessa frase quando cismo de me enclausurar em casa vendo tv quando tenho mil coisas para fazer. A outra frase é o ditado arcaico inglês que dá título a essa postagem e que eu li em Hamlet.

GRRRRRRRRRRRRRRRRRR! Ganhando forças... Sai de mim ÓCIO!!!
Saiu. Preciso marcar esses malditos ensaios.
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Olho para o lado e vejo o maço de Marlboro. O símbolo da Philip Morris tem dois cavalinhos, num brasão de armas que diz em baixo: Veni, vidi, vici. Pelo menos a indústria de cigarros está pensando positivo...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Calvário Feroz: na TV domiciliar sou pupilo dos mestres. Parte III

Dizem que Wes Anderson, no meio das filmagens de Royal Tenenbaums, decidiu assistir a um filme de Buñuel para se inspirar. Impossível dizer que foi por falta de organização ou não saber o que filmar. Esse caboclo planeja os planos meticulosamente. De Bottle Rocket à Darjeeling Limited a direção de arte é exemplar, os móveis posicionados simetricamente, a roupa dos atores condiz com sentimentos ou com a cor do espaço (olha a foto acima). O cara é geek, porra. Já viu CDF desorganizado? Ele realmente foi assistir ao filme de Buñuel para se inspirar em algo que faria similarmente ao mestre.
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Quentin Tarantino e Brian de Palma fazem referência aos grandes mestres? Sim. São plagiadores? Óbvio que não. Plágio (pago e consentido) é o Lata Velha do Luciano Huck em cima do Pimp my Ride da MTV. Esses dois diretores simplesmente fazem das suas referências algo explícito e escancarado. Tarantino se diverte filmando Sergio Leone com espadas ao invés de revólveres. De Palma reverencia Hitchcock de forma trash e jocosa em inúmeros filmes. Os caras mandam bem brincando com o trabalho dos outros e não devem ser menos respeitados por isso (apesar de De Palma estar quilômetros à frente de Tarantino).
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Com essa história do curta que rodarei em agosto ser um plano sequência, tenho revisto alguns filmes clássicos e nem tão clássicos. Irreversible foi um deles. Aprendi muito com o making of. Podem falar que o filme é grotesco, nojento, ruim, pútrido, etc, mas raramente o plano sequência foi tão bem usado, coreografado e do cacete. Estamos numa democracia, respeito o gosto alheio e admiro tremendamente a individualidade crítica de cada um, mas, quem acha esse filme ruim é um babaca. Ou, eu sou um babaca (que é algo bem plausível).

Vi também Blow Up de Michelangelo Antonioni. Meu filme se passa no meio da floresta da Tijuca e, apesar da diferença de estilo, os planos sequência no parque inglês foram bastante inspiradores.
Meu assistente de direção lembrou hoje de Shining/O Iluminado do Stanley Kubrick. Sem dúvidas não poderia me esquecer de assistir a essa joia. Talvez amanhã.
Preciso ainda rever The Man with the Golden Arm do Otto Preminger com um Frank Sinatra fazendo um junkie de heroína. Enfim, tenho que ver ainda várias coisas.

Os mestres estão aí para isso; para nós plagiarmos. Quer dizer, nos inspirarmos.
foto: Wes Anderson na sua loja de taxidermia preferida (Paris) por Andrew Eccles da NY
Magazine. Olha os lugares que a criança gosta de frequentar...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NãO)

KINO - L'instinct de mort/Inimigo Público Nº1, dir. Jean-François Richet, France/Canada/Italia, 2008.

Uma cena no ínicio mostra que o protagonista não gosta de seguir ordens. Uma cena com o pai mostra que o protagonista quer ser o oposto do patriarca dominado pela esposa. Tirando isso, não existem mais explicações para o comportamento violento e suicida do biografado. É um filme de ação vazio com muito sangue? Sim, mas só por não ser americano e estrelar o nervoso Vince Cassel, já vale o ingresso. Guardadas as devidas proporções, me lembrou Borsalino & Co., com Alain Delon, que é um clássico.

KINO 2 - Nunta muta/Casamento Silencioso, dir. Horatiu Malaele, Romania/Luxembourg/France, 2008.

Soluções visuais mirabolantes e eficazes. Reverência ao cinema mudo. Interessante como o público no cinema faz mais barulho que os atores na tela que precisam celebrar um casamento sem que o exército soviético perceba. A magia na tela me lembrou Fellini...

KINO 3 - A Festa da Menina Morta, dir. Matheus Nachtergaele, Brasil, 2009.

Os planos sequência nem sempre fazem sentido no filme. Às vezes o diretor parece bem seguro e o filme desenrola bem, mas quando cisma de copiar o estilo de Cláudio Assis, ele se perde.

ANTENA - Som & Fúria, dir. Fernando Meirelles, Brasil, 2009.


Sem grandes inovações apesar de eficaz e engraçado. De original, somente o fato de duas personagens fumarem maconha sem serem taxadas de bandidas, perdidas ou loucas (coisa que 35 anos de novelas na Globo nunca mostrou).

sábado, 18 de julho de 2009

Calvário Feroz: Plano sequência no meio do mato - uma loucura programada. Parte II

Um plano sequência nada mais é do que uma cena filmada sem interrupções/cortes. Vídeos caseiros são repletos de planos sequências visto que aquela tia velha pega a câmera e roda sem cortar por uns 30 minutos. A alma do cinema sempre foi a montagem, a edição.
Vemos um homem sentado à mesa de longe, corta para ele mais perto e finalmente corta para um close de sua mão levando uma xícara de café à boca. Num plano sequência, vemos o homem sentado à mesa de longe, a câmera se aproxima da mesa chegando mais perto até que se chegue ao close da xícara. Em teoria, o plano sequência pode parecer mais real, já que é mais orgânico, mas é justamente a montagem que faz com que as narrativas pareçam mais autênticas.

Chama-se de montagem Hollywoodiana ou invisível quando os cortes são feitos de forma que o público não perceba o aparato cinematográfico. O homem está sentado à mesa num plano aberto, corta-se para um plano mais fechado, e somente quando ele se movimenta para pegar a xícara, cortamos para um close. Se formos direto do plano aberto para o close, a tendência é que a transição seja muito brusca e o espectador "saia" do filme.

O plano sequência, como não tem cortes, faz com que o espectador comece a prestar atenção em outras coisas que não seja a ação da cena. Assisti ainda agora à Festa da Menina Morta de Matheus Nachtergaele, um filme repleto de planos sequências (recurso que no cinema brasileiro tem mais a ver com questões financeiras do que estéticas. Enquadra-se uma cena, faz-se o ator despejar o texto todo duma vez e pronto. Sem rodar closes, planos médios, inserts, variações de planos gerais, o filme é rodado mais rapidamente e como tal, sai mais barato). No filme, tem um momento em que Cássia Kiss faz um monólogo com Daniel de Oliveira ao fundo. Eles quase não se mexem enquanto ela discursa ininterruptamente. A tendência é que seus olhos comecem a passear pela tela e sua mente divague. Quando o filme é bom, esse recurso é usado justamente para "tirar" o público do filme e fazer com que ele questione temas ou ideias apresentadas pelo diretor. Nesse momento, tem-se completa noção que estamos assistindo a um filme, que estamos numa sala de cinema e assim por diante. Um filme como Duro de Matar, que tem uma montagem invisível e rápida, não deixa que desgrudemos os olhos da tela, não nos dando tempo para piscar, quanto mais para pensar. Dizem que é por isso que Hollywood domina o mundo, porque seus filmes não são feitos para pensar...

O filme que rodarei em agosto será composto por um único plano sequência. No entanto não será um plano sequência como os da Festa da menina Morta ou os de vários filmes de Jim Jarmusch e Antonioni. Nos planos sequência desses filmes, a câmera raramente se mexe, e por isso causam esse efeito de reflexão em quem assiste. Neste curta, o plano sequência acompanhará o protagonista para onde quer que ele vá. E olha que o bicho vai entrar dentro da floresta da Tijuca. A câmera estará em movimentação constante, trocando de foco, mudando a perspectiva e assim, não "tirará" tanto o espectador da narrativa. Será uma mistura de ação desenfreada em que o público está imerso no filme e momentos de placidez em que se apercebe do aparato cinematográfico ("existe um diretor, existe uma câmera, opa, tô vendo um filme"). Se existirá reflexão...aí já não sei. Espero que sim.
Porque todos que entendem de cinema dizem que sou louco por rodar um filme em um único plano? Ensaios têm que ser milimétricos, a equipe tem que estar muito bem sincronizada, em caso de erro do elenco ou da equipe técnica tem que se começar tudo de novo, sombras da câmera podem estragar tudo (em Irreversible apagaram sombras com softwares específicos) e por aí vai. Mas, meu medo mórbido e angustiante é apenas um: pode ficar chato pra caralho. Tem um momento que o protagonista tem que andar por um minuto, no meio da mata, sem falar nada. O desafio é imenso, o maior de minha curta carreira. Minha segurança tem vindo das pessoas que se envolveram neste projeto. Acreditam em mim (ou pelo menos fingem).

Meus dois filmes anteriores têm vários planos sequências. No primeiro, Out of the Prohibition Era, o protagonista vinha andando de longe e demorava uns 40 segundos para chegar perto da câmera. Para alguns, esses 40 segundos pareciam uma eternidade. Para outros, foi o melhor plano do filme. Gosto é gosto. Bunda é bunda.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Prozac da Semana


Meu velho curta (Zero Hora de 2005) foi projetado em Ipanema. Já tinha rodado os festivais que precisava, como Brasília e o New York Brazilian Film Festival, mas nunca tinha sido exibido no Rio. Coloquei o filme nessa mostra com a intenção de que alguns amigos que nunca viram o filme fossem lá prestigiar. Foi maravilhoso sentir a energia do público depois de tanto tempo (a casa estava lotada apesar de conhecer poucas pessoas). As risadas, a tensão. Acho que no fundo queria me sentir querido de novo como artista antes de rodar este novo curta em agosto. A maioria dos convidados não compareceu. Mas os que compareceram é que contam. Aprendi isso amargamente numa festa de aniversário de 15 anos. Só interessa quem está presente. E os que apareceram, me fizeram feliz...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Winner Take Steve

Falso comercial da Nike dirigido por Jared Hess (Napoleon Dynamite). Se eu soubesse escrever comédia, queria que fosse assim, apesar de ser um humor bem específico (meio geek mesmo) que nem todos gostam.

Quando fui a NY pela última vez, meu caro amigo diretor Marcello Lima me mostrou essa joia.

Eu acho essa parada hilária. Apreciem.



segunda-feira, 6 de julho de 2009

Calvário Feroz: a realização de mais um curta metragem. Parte I


Conheci brevemente Darren Aronofsky quando morava em NY. Simpático, ele transmitia otimismo em tudo que falava. Todas as suas frases terminavam com um sorriso. Hoje me lembrei do otimismo desse diretor que tanto me inspira.

Darren Aronofsky declarou no making of de Requiem for a dream que após fazer Pi e ganhar o prêmio de melhor diretor em Sundance, achou que seria fácil fazer seu segundo filme. Ele tinha 30 anos de idade e com apenas um filme na gaveta (rodado por 60 mil dólares) já era considerado um dos mais promissores cineastas americanos. Os executivos dos grandes estúdios disseram que ele poderia escrever o que ele quisesse que eles bancariam o filme. Aronofsky adaptou Requiem for a dream do livro de Hubert Selby Jr. e ouviu dos mesmos executivos que eles nunca poderiam bancar tal história. Quem já viu o filme, repleto de junkies vivendo de heroína, sabe porquê. Acabou tendo que fazer o filme com um orçamento apertado, de forma independente. Concluindo, Aronofsky disse que o segundo filme foi mais difícil do que o primeiro. Imagino que o terceiro, The Fountain, deve ter sido ainda mais difícil visto que foi lançado seis anos depois de Requiem. De 1998 até 2008, Darren fez quatro filmes. Pouco para os padrões americanos.
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Eis que inicio a pré-produção do meu terceiro curta: Ferocidade - entre a Urbe e a Flora. Já me deparo com o filme mais difícil de minha autoria. Não me refiro aos apectos técnicos, e sim, ao que a obra demanda de mim. Uma demanda psicológica intensa que me leva a estados que alternam entre a depressão e a euforia. A pré-produção, que inclui toda a preparação nos mínimos detalhes para a filmagem, é a fase que mais me esgota. É a etapa que questiono ininterruptamente a qualidade do projeto e o meu talento em realizá-lo. O medo do fracasso é imenso.
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Escrevi Ferocidade ainda na faculdade em 2003. Tinha escrito para rodá-lo para uma aula de direção. Acabei tendo que trancar a aula porque estava no meu último semestre finalizando meu curta de conclusão de curso. O tempo era escasso e acabei não filmando esse roteiro.

Em 2005 finalizo Zero Hora e desde então adio todos os meus projetos artistícos.

É duro dizer isso abertamente, mas na verdade, a razão dessa procrastinação é o medo de errar. Obviamente, não existe certo ou errado na arte (talvez nem mesmo na vida), mas todos os trabalhos artistícos são julgados. Eu não lido bem com críticas negativas. Se dizem que o roteiro é confuso, me sinto ofendido. Quando mando um filme para um festival e este não é aceito, me sinto fracassado.

Peno ao pensar que já estou no Rio de Janeiro há quatro anos e que criei muito pouco. Dou como desculpa o fato de ter que trabalhar filmando institucionais para a Petrobras ou editando campanhas políticas. Sim, preciso de dinheiro, mas no fundo sei que isso são desculpas esfarrapadas. Eu sei e pessoas próximas a mim também sabem que sempre temos tempo para criar.

Estou numa midlife crisis há cinco ou seis anos que precisa se encerrar. Sempre digo aos meus amigos artistas que a obra tem que ser considerada boa pelo próprio autor que só assim conseguirá agradar a seu público. Tenho ignorado minha própria máxima. Fico preocupado com o que acharão, o que pensarão, se gostarão... Tudo isso é implícito em mim. Na maioria das vezes não percebo que estou enrolando o projeto devido a esse medo. Tenho que enfrentar esse medo da rejeição assumindo-o.
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Inicio neste blog uma espécie de diário de produção para lutar contra mim mesmo. Eu sou meu maior inimigo e irei combatê-lo. Ao tornar público este projeto, obrigo-me a prossegui-lo. Está aqui, gravado nas páginas da world wide web o meu comprometimento com a conclusão deste filme. Agora não tem mais volta. Márcio B. Venturi vencerá Márcio Monteiro Ventura Leite.
foto: Darren Aronofsky com Mickey Rourke no set por Annie Leibovitz

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dissertando sobre óbitos

David Carradine será lembrado como o cara que estrelou uma série cult chamada Kung Fu e morreu num ato de asfixia erótica.

Farrah Fawcett não terá sequer menção de sua passagem por As Panteras ou por sua morte devido a um câncer. Na melhor das hipóteses, será lembrada por esta foto ao lado.

James Dean é conhecido por morrer num acidente de carro antes de ver seus filmes em cartaz. Quantas pessoas hoje em dia viram um de seus três filmes East of Eden, Rebel without a Cause ou Giant? Notoriedade por atos fora da tela.
Um ótimo professor de história que tive na faculdade disse: "Alexandre, o Grande, conquistou o mundo conhecido achando que teria um lugar de destaque na história, mas hoje não passa de um pontinho." Quantas pessoas realmente fazem a diferença?

Se eu fosse negro e fizesse inúmeras cirurgias para parecer branco, fosse levado a tribunal por pedofilia (DUAS VEZES), andasse constantemente com máscaras cirúrgicas, tivesse três filhos por inseminação artificial sem nunca ter tentado por vias naturais, esse seria meu legado post mortem. Michael Jackson ultrapassa tudo isso. Ele fez a diferença.
Ele teve uma importância fundamental para o cinema. Claro que não foi pela bomba Moonwalker ou pelo racista The Wiz (uma refilmagem do Mágico de Oz com elenco e equipe técnica formada exclusivamente por negros. Michael fazia o Espantalho. Porque minha mãe alugou este filme???). Os clipes de Off the Wall eram cintilantes e psicodélicos. Imitados à exaustão (até por Raul Seixas em 10,000 anos atrás). Thriller transformou o clipe de promoção em uma arte em si. Black and White criou a fusão de rostos, um efeito especial que deixou a todos de queixo caído. Michael queria sempre inovar, queria ser sempre o melhor. Enquanto artistas tentam lançar um álbum por ano, Jackson, a partir de Off the Wall, nunca lançou discos com menos de três anos entre eles. Michael Jackson na música era como Spielberg no cinema. Ele trabalhava arduosamente em seu projeto, criava uma expectativa tremenda, e correspondia. Todos queriam ver o clipe de lançamento do novo álbum de Michael Jackson. Até quem não gostava.

As coreografias de Beat it e Bad influenciaram todos os filmes musicais modernos. Sem falar na edição. A influência de Billy Jean, então, é incomensurável.

Em 1992 vi um show da turnê Dangerous. Mesmo que tampasse os ouvidos, sairia satisfeito. Um delirante espetáculo visual. Um moonwalk pelo palco inteiro. Explosões em meio de coreografias deslumbrantes. E no final, Michael colocou um jet pack da NASA e saiu sobrevoando a cabeça de todos no estádio (eu sei que era um dublê, mas me deixa viajar). Quem não foi ao show viu isso de novo na Grande Rio em 2001... 9 anos depois.

Michael Jackson foi responsável pela introdução do negro no mercado de entretenimento musical americano (ironicamente fugiu à própria cor em inúmeras cirurgias). Quase arremessou o filho duma sacada. Fez a famosa campanha "Uiardeuord ue arr de tchildren" ajudando milhares de africanos. Atropelou um moleque no Rio que só queria um autógrafo (engraçada a cara do moleque todo ferrado no hospital, feliz da vida porque Jackson foi visitá-lo). Fodeu com Paul McCartney ao comprar metade do acervo das músicas dos Beatles que foram a leilão. E. E. E.

Nada disso será lembrado. Sua obra é mais importante que seus atos como pessoa física. Pedófilo, racista, estranho, aberração, não importa. Sua música e sua dança trouxeram mais alegria que tristeza. Alguém já cantou tão bem e dançou tão bem quanto ele?

No Globo de domingo, uma economista disse: "Artista que saiu perdendo para o homem". Pois eu acho justamente o contrário. O Homem transtornado, molestado, acossado, repugnado, inocentado, acusado, ilibado, privado de infância, saiu perdendo para o artista. E é do artista que nos lembraremos.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fanfarrão Digere gnocchi enquanto Capitão Digressa

Divagando pela noite carioca eis que adentro a pré-estréia da peça Confronto, dirigida por Domingos de Oliveira. A peça é baseada na segunda parte do livro Elite da Tropa, por Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel. O filme Tropa de Elite aborda os homens do front de batalha, Confronto aborda os bastidores políticos. Interessante, apesar dos altos e baixos.
Após a peça, através de amigos em comum, sento-me para jantar numa cantina italiana ao lado de ninguém mais ou menos que o capitão Nascimento, vulgo Rodrigo Pimentel. A presença desse homem me fez lembrar de momentos chaves na construção da minha identidade audiovisual.
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Ano 2000, de férias em Viçosa, assisto com um maluco ao documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles.
Além de todas as qualidades desse filme, duas declarações me marcaram profundamente.

"A sociedade quer uma polícia que não seja corrupta? É fácil. Se parar em lugar proibido vai ser multado. O Posto 9, a galera que cheira em ipanema, vão ser autuados. Mandado de prisão na Delfim Moreira. A sociedade está pronta para isso?" Hélio Luz, na época chefe da polícia civil do Rio, declara.

Rodrigo Pimentel, ainda capitão do BOPE, declara num suspiro de desesperança: "Nós matamos um traficante. Eles matam um policial. Não vejo luz no final do túnel. Eu estou participando de uma guerra. A única diferença é que todo dia eu volto para casa".

Quando comprei o dvd City of God (estrelando Lil Zé, Rocket and Benny), um dos extras era esse documentário. Desde então já o revi várias vezes.
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Na cantina Donana, Rodrigo Pimentel contou sobre suas experiências como escritor, comparou os livros de Syd Field e Doc Comparato e dissertou sobre a violência (sem ser demagogo). O Pimentel contemporâneo consegue ver uma luz no fim do túnel. Acho que ter saído da polícia deve ter ajudado...
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Onde você estava quando o Zico perdeu o pênalti contra a França em 86? Na casa dum vizinho em Viçosa-MG.
Onde você estava quando o Ayrton Senna morreu? Também em Viçosa, na cama, dormindo (Fórmula-1 é muito cedo) .
Onde você estava durante o sequestro do ônibus 174? Saindo para a faculdade em Nova York.
Essa tragédia pontilhou e marcou a ferro minha memória. Na altura ainda não tinha noção da proporção, mas fui ficando. Ainda dava para chegar na aula a tempo. Sentei no sofá e fui acompanhando a Globo Internacional. Quando dei por mim, já estava fumando, sem camisa e não lembrava mais da aula.

Repórteres que não respeitavam a barreira policial com seus closes alarmantes, o povão que parecia ver uma peleja em pleno Coliseu, a polícia que seguia impassível e todos querendo o sangue de Sandro, o sequestrador.
Que filme maravilhoso eu poderia fazer se aquelas imagens caíssem em minhas mãos. José Padilha estava no Rio, ao contrário de mim. José Padilha tinha o dinheiro para comprar os direitos de transmissão daquelas imagens. E José Padilha dirigiu Ônibus 174.
Uma lição de cinema. Reúne o melhor do documentário americano com emoção na narrativa ao melhor do brasileiro com suas lentes telephoto e toda sua claustrofobia. A edição de Felipe Lacerda, co-diretor do filme, é impressionante.

Novamente, Rodrigo Pimentel aparece em minha vida. Neste filme, ele já saiu da polícia, e depõe como ex-capitão. Aponta as intensas babaquices cometidas na operação do ônibus e aparenta um ar mais tranquilo. Acho que ter saído da polícia deve ter ajudado (bis).
Cidade de Deus (auxiliado pelo doc Notícias... no meu dvd americano) e Ônibus 174 foram grandes responsáveis pela minha volta ao Brasil em 2005.
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Mastigando meu gnocchi, continuo ouvindo Pimentel. Rodrigo como autor é bem melhor do que como capitão Nascimento.
Obviamente, não sou uma daquelas lendárias velhinhas que confundem o vilão da novela com o ator que o interpreta. Impossível achar que o capitão Nascimento é 100% o Pimentel. No entanto, pelo sim, pelo não, comi minha massa sem fanfarronices e saí sem pedir.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NãO)

KINO: Man on Wire/Equilibrista, O, dir. James Marsh, UK/USA, 2008.

Depois de ganhar um Oscar e ser elogiado por todos, resta-me ser o cara do contra. O significado da arte do equilíbrio para seu protagonista some no meio de dramatizações longas. O SER se perde e dá lugar a um filme que enaltece o artista sem nunca realmente conhecê-lo.



BETAMAX: Vicky Cristina Barcelona, dir. Woody Allen, Espanã/USA, 2008.

Legalzinho. No entanto, a drástica e madrasta veritá, é que o último filme bom de Woody Allen comemora 11 anos: Celebrity/Celebridades. Difícil é convencer o Woody Allen a voltar para Manhattan ganhando na Europa o que nunca ganhou na ilha.




Auscutador: The Prodigy, Invaders Must Die, 2009.

Uma PoRRada!!! Mais para Experience do que para Fat of the Land. O tipo de álbum que eu tocaria se eu fosse DJ. Underground e mainstream ao mesmo tempo. Tem até música intitulada Piranha (com "nh").



Abaixo, edição no seu auge.







quarta-feira, 3 de junho de 2009

Prozac da Semana

Recentemente, toda vez que reclamo com minha própria pessoa o fato de nunca mais chegar a hora de rodar meu primeiro longa, digo para mim mesmo: Almodóvar dirigiu 11 curtas antes do primeiro longa.
Tô indo para o meu terceiro, portanto, tô bem (ou finjo estar por alguns minutos até que a reclamação surja de novo knockin' on brain's door).

domingo, 31 de maio de 2009

Nem mesmo o AdaMantiUm de Logan me calará!!!

Desde que me casei, ir ao cinema sozinho é fato raro. Quando solteiro, era frequente. Minha mulher estava num plantão em pleno domingão, e, sentindo-me solitário, resolvi ir ao cinema. Nesses inebriantes momentos de turva solidão, nada melhor do que ver um filme sobre um homem solitário. Um loner, algo que sempre me considerei. Não por opção, mas porque eu sou muito chato mesmo e é difícil me aguentar. Sozinho, volto a me comportar, reflito e me reintegro à sociedade. Sim, fui ver, X-Men Origins: Wolverine, dir. Gavin Hood, USA, 2009. Minha mulher disse que não veria esse filme nem pintado de adamantium.
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Ontem, num maravilhoso fondue entre amigos, uma amiga deu a mesma resposta que minha mãe. Na minha fingida (sim, porque eu sei a resposta) indignação, pergunto como alguém pode assistir algo escrito pela Gloria Índia Perez. A resposta é simples: tudo é tão idiota e vazio que o cérebro é desligado e todas as complicações do cotidiano se esvanecem. Ela e minha mãe fazem isso com a Glória Clone Perez e eu faço com filmes de ação. O meu Sex and the City é um Duro de Matar.
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Eu sou o mais extremo rancor representado pelos geeks. Revolta-me quando alteram a história dos quadrinhos por opções piores. Se fizerem um filme com o Batman gay e for muito bom, tudo bem. Podem alterar à vontade. Mas para pior? Se não está quebrado, não conserte.

Porque criar uma história de Abel e Cain em Wolverine se nas HQs nunca foi comprovado que Wolverine e Dentes-de-Sabres são irmãos? Porque fazê-lo sem humor e com plena consciência se nas HQs ele é um baixinho engraçado e desmemoriado? Porque fazer com que as garras saiam do meio dos nós dos dedos se no original elas saem acima dos nós dos dedos? Tá, agora eu sendo implicante.
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O que aconteceria se Wolverine fosse pintado por C.M. Coolidge e Salvador Dali???













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A literatura deixa margens infinitas à imaginação. Quadrinhos limitam um pouco essa imaginação visto que estamos vendo os desenhos no transcorrer das páginas. Imaginamos o movimento do herói socando o vilão, sua voz, os ruídos de Metrópolis, mas vizualizamos muito mais que num romance.

As adaptações de quadrinhos para o cinema foram, na sua maioria, fiascos. Qualitativamente falando.

Os efeitos especiais de antigamente não davam conta do recado e quando se tentava, os resultados eram risíveis. Dependiam de roteiro. E roteiro não tinham. Continuam não tendo. Só que os efeitos especiais de hoje dão conta do recado. O sucesso de filmes baseados em quadrinhos é um sucesso no começo do século XXI. Para muitos, ver Logan voando e cortando a hélice dum helicóptero já vale o ingresso. Eu preferia vê-lo dizendo frases de efeito, transtornado por ser um "animal" e de vez em quando, aí sim, metendo o cacete na galera.

Sin City e 300 são legais porque usam ritmo e visual a seu favor e dependem menos do roteiro apesar de estar lá. O pobre Wolverine ficou orfão de uma boa história. A besteira não foi boa o suficiente para que eu desligasse o cérebro.


Wolverine caricatura: http://leandrofca.blogspot.com/2007_07_01_archive.html
Wolverine Coolidge e Dali: http://superpunch.blogspot.com/2009/03/if-rene-magritte-salvador-dali-and-cm.html

terça-feira, 19 de maio de 2009

Legendas, Cartelas e Tarjas Pretas

As cartelas no cinema mudo serviam para ilustrar diálogos ou ações. O ator falava sem palavras e uma cartela de letras brancas aparecia na tela para traduzir sua boca muda mexendo. Curiosamente, os melhores filmes eram aqueles que tinham poucas cartelas. O povo nunca gostou muito de ler. Dizendo povo, incluo a todos. Conheço burgueses que gostam de ouvir o Woody Allen em português com sotaque carioca. Conheço membros da plebe que só curtem a risada do Eddie Murphy feita pelo dublador.

Uma pesquisa do Datafolha informou que 56% dos brasileiros que frequentam cinema gostam mais de filmes dublados. A maioria das pessoas que vai ao cinema (pagando extorsivos 18 reais por uma inteira no Rio de Janeiro) são pessoas que têm de onde tirar. Assim, cai por terra a teoria que só pessoas com baixo ou nenhum nível educacional preferem os dublados. A galera quer ouvir "Vai se ferrar" e não "Fuck you". Aliás nunca entendi porque "fuck" e seus derivados sempre viram "ferrar" nas bocas dos dubladores...

O canal TNT é o mais assistido da tv a cabo. O TNT é inteiramente dublado. TUDO. Quem tem tv a cabo não é o pobre. O pobre tem gatoNet e não entra no censo.
A classe média não confessa, mas adora ouvir os gringos falando português.
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Achei bem mais ou menos o Quero ser um Milionário/Slumdog Millionaire, dir. Danny Boyle, UK-India, 2008. Também, o filme ganhou o Oscar. Dificilmente seria bom. No entanto, Slumdog tem um grande mérito. Algo bastante original. A legenda. Provavelmente pensando no público americano, que odeia legendas, o diretor tornou as legendas muito mais dinâmicas e fáceis de ler. Danny Boyle coloca as legendas ao lado do personagem, quase como se fossem os pequenos balões das histórias em quadrinhos. Funciona bem nos planos abertos e muito bem nos closes. Achei altamente inovador e acho que a moda vai pegar.
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Fui à pré-estreia de Adagio Sostenuto, dir. Pompeu Aguiar, Brasil, 2009, produzido por Ana Cristina Sauwen. Achei o filme interessante. Um vídeo arte com uma narrativa ficcional. Palmas para o diretor que segurou um filme inteirinho só com um ator em quadro. Mas o que ficou na mente foram as cartelas que apareciam na tela. Filosofias pretensiosas, momentos de auto-ajuda, trechos de romances existencialistas...tudo em texto por cima de imagens muito bem fotografadas. Das imagens, lembro bem das paisagens do campo, do anoitecer urbano, dos fogos de artifício. Do texto, não lembro de nada.
Na faculdade teve uma aula em que o professor disse que nosso cérebro lembra de cerca de 80% das imagens e 20% do diálogo. O cinema é uma linguagem visual e por isso, para muitos, a dublagem é preferida. Meus professores de roteiro martelavam na minha cabeça: se um diálogo pode ser substituído por uma sequência de ações, faça-o. Du Rififi chez les Hommes (na minha lista de obras primas ao lado) tem uma famosa sequência de roubo em que os ladrões ficam 30 minutos do filme sem falar nada. EsPeTacUlar.
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LoUcAMente pesquisando para o roteiro dum futuro doc da minha produtora, deparei-me com esse clipe. Bastante original como o diretor usa ironicamente a tarja preta da censura a seu favor. No caso, o texto é usado como ajuda e gadget audiovisual. Não importa se eu lembro o que dizem as cartelas, elas estão ali apenas para fazer uma graça como "efeito especial" e ajudar no ritmo do clipe. E além do mais é um plano sequência, portanto, na falta de cortes é sempre bom possuir agilidade. O texto das cartelas foi não só original como útil.

Make the Girl Dance: Baby, Baby, Baby (eu falei que o clipe era original, não o nome da música)

domingo, 17 de maio de 2009

Quem sois, Tchê? - uma prolixa crônica falando de biografias longas


Eu tenho uma grande dificuldade com monólogos teatrais. Apesar de diagnosticado que não sofro de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é-me extremamente difícil prestar atenção numa história longa verbalizada por apenas uma pessoa. O personagem é bloqueado e vejo apenas o ator balbuciando algo. Claro que toda regra é sem noção e já vi monólogos incríveis, mas isso é outra serenata.

Quando um interlocutor está contando os tremendos obstáculos que teve de ultrapassar para chegar àquele ponto e local onde trocávamos uma ideia e para para cumprimentar um colega e volta cinco minutos na história dando aquele incrível senso de déjà vu e tudo isso sem vírgulas assim como dizem que Nabokov escreve apesar de nunca ter lido Lolita. Perco-me completamente.
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Algo similar acontece nas biografias cinematográficas diante da minha percepção. Querem contar a vida do cara toda quando talvez isso não seja tão importante assim. Chaplin, 1992, de Sir Richard Attenborough, faz isso. Inicia com um Carlitos pobrinho até, enfim, ele morrer na Suíça tendo como enfermeira a esposa 39 anos mais jovem. Você vê, vê e vê e perde as emoções do personagem porque o filme é apedrejado por diversos fatos históricos e peculiaridades vazias. Esquecem o drama e a emoção em prol de ser justo à biografia do retratado.
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Costumo ter sempre um livro no banheiro. Numa época, o livro era Chatô, de Fernando Moraes. Ele fala tudo sobre a vida de Assis Chateaubriand, mas em momento algum invade a cabeça do biografado. Não especula o que passaria pela cabeça do protagonista. O livro era tão grande que ao ritmo de duas páginas por ida ao banheiro, nunca terminaria de lê-lo. Ao passar a parte que falava sobre o Presidente Arthur Bernardes (tinha que saber sobre o presidente que era meu conterrâneo de Viçosa, MG) desisti do livro. Não conseguia ter interesse por tantos detalhes. Minha tia falava que eu estava lendo o "Chatão". Foi o único livro que não li até o final. Chatô era jornalístico demais.
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Che: The Argentine, 2009, de Steven Soderbergh é jornalístico. É como se o Fernando Moraes tivesse dirigido o filme.

-Che Guevara deu uma bazucada naquele caboclo ali? Então vamo filmá ele dando uma bazucada.
-Che Guevara tossiu subindo essa ladeira aqui? Então vamo produzir essa cena asmática.

O filme propõe ao espectador mostrar-lhe o período Cubista das Havanas:
-Não estilizemos o protagonista e não julguemos suas ações. Não cabe a nós dizer quem foi Che Guevara e sim o público."
Será que um filme de ficção consegue ser tão imparcial? Já é dificil um documentário ser imparcial, o que dizer de uma obra de ficção?

À saída do cinema argumentou-se que é interessante ver esse tipo de filme de gênero histórico. Eu concordei. É interessante. Mas se fosse um filme igualzinho só que num mundo onde Che Guevara nunca existiu, será que seria interessante? Provavelmente não. O filme se sustenta por seus fatos. A ficção do longa é coadjuvante, tornando as emoções insípedas, turvas. As ações de Che no filme não são suficientes para descobrirmos nada sobre ELE como SER.

Vi o argentino Che na ONU, no meio da guerrilha, no México e no final do filme permaneceu a pergunta: Quem foi Che Guevara?

foto Che 1: http://www.popartuk.com/people/che-guevara/mural-of-che-guevara-on-cuban-wall-12163-poster.asp
foto Che 2: http://be-extreme.blogspot.com/2008/12/nova-t-shirtche-guevara.html

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NÃO)

KINO: Synecdoche, New York/Sinédoque, NY, dir. Charlie Kaufman, USA, 2008: Um filme cabeça com um ritmo de filme comercial (como só os americanos sabem fazer). Existencialismo presente em cada frame. O melhor filme/roteiro de Charlie Kaufman.

An art film with a commercial film rhythm (like only Americans know how to do). Existencialism is present in every frame. The best Charlie Kaufman film/script so far.





BETAMAX: La Haine/O Ódio/The Hate, dir. Mathieu Kassovitz, France, 1995:

Retrato profundo da xenofobia e exclusão no subúrbio de Paris. Apesar da interpretação fraca de Hubert Koundé as vezes nos tirar um pouco do filme, Vince Cassel dá show e a direção é tão boa que esquecemos tal detalhe. A cidade luz não existe aqui.

Profound portrait of the xenophobia and exclusion in the suburbs of Paris. Even though Hubert Koundé delivers a weak performance that sometimes removes you from the story, Vince Cassel is spectacular and the direction is so good that we forget such detail. The city of lights does not exist here.


ANTENA: Força Tarefa, dir. José Alvarenga Jr., Brasil, Tv Globo, 2009:

Qualquer um que gosta de séries policiais, sabe que o foco tem que estar nos dramas da vida dos policiais/detetives. Os casos em si só existem para revelar ainda mais sobre os protagonistas. Não foi o que aconteceu no piloto desta série. O caso teve mais tempo no ar do que os protagonistas. E a resolução do caso acontece devido a uma denúncia e não ao trabalho de dedução e investigação dos policiais. Se bem que com a polícia brasileira, só assim mesmo para solucionar um caso.