domingo, 17 de maio de 2009

Quem sois, Tchê? - uma prolixa crônica falando de biografias longas


Eu tenho uma grande dificuldade com monólogos teatrais. Apesar de diagnosticado que não sofro de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é-me extremamente difícil prestar atenção numa história longa verbalizada por apenas uma pessoa. O personagem é bloqueado e vejo apenas o ator balbuciando algo. Claro que toda regra é sem noção e já vi monólogos incríveis, mas isso é outra serenata.

Quando um interlocutor está contando os tremendos obstáculos que teve de ultrapassar para chegar àquele ponto e local onde trocávamos uma ideia e para para cumprimentar um colega e volta cinco minutos na história dando aquele incrível senso de déjà vu e tudo isso sem vírgulas assim como dizem que Nabokov escreve apesar de nunca ter lido Lolita. Perco-me completamente.
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Algo similar acontece nas biografias cinematográficas diante da minha percepção. Querem contar a vida do cara toda quando talvez isso não seja tão importante assim. Chaplin, 1992, de Sir Richard Attenborough, faz isso. Inicia com um Carlitos pobrinho até, enfim, ele morrer na Suíça tendo como enfermeira a esposa 39 anos mais jovem. Você vê, vê e vê e perde as emoções do personagem porque o filme é apedrejado por diversos fatos históricos e peculiaridades vazias. Esquecem o drama e a emoção em prol de ser justo à biografia do retratado.
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Costumo ter sempre um livro no banheiro. Numa época, o livro era Chatô, de Fernando Moraes. Ele fala tudo sobre a vida de Assis Chateaubriand, mas em momento algum invade a cabeça do biografado. Não especula o que passaria pela cabeça do protagonista. O livro era tão grande que ao ritmo de duas páginas por ida ao banheiro, nunca terminaria de lê-lo. Ao passar a parte que falava sobre o Presidente Arthur Bernardes (tinha que saber sobre o presidente que era meu conterrâneo de Viçosa, MG) desisti do livro. Não conseguia ter interesse por tantos detalhes. Minha tia falava que eu estava lendo o "Chatão". Foi o único livro que não li até o final. Chatô era jornalístico demais.
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Che: The Argentine, 2009, de Steven Soderbergh é jornalístico. É como se o Fernando Moraes tivesse dirigido o filme.

-Che Guevara deu uma bazucada naquele caboclo ali? Então vamo filmá ele dando uma bazucada.
-Che Guevara tossiu subindo essa ladeira aqui? Então vamo produzir essa cena asmática.

O filme propõe ao espectador mostrar-lhe o período Cubista das Havanas:
-Não estilizemos o protagonista e não julguemos suas ações. Não cabe a nós dizer quem foi Che Guevara e sim o público."
Será que um filme de ficção consegue ser tão imparcial? Já é dificil um documentário ser imparcial, o que dizer de uma obra de ficção?

À saída do cinema argumentou-se que é interessante ver esse tipo de filme de gênero histórico. Eu concordei. É interessante. Mas se fosse um filme igualzinho só que num mundo onde Che Guevara nunca existiu, será que seria interessante? Provavelmente não. O filme se sustenta por seus fatos. A ficção do longa é coadjuvante, tornando as emoções insípedas, turvas. As ações de Che no filme não são suficientes para descobrirmos nada sobre ELE como SER.

Vi o argentino Che na ONU, no meio da guerrilha, no México e no final do filme permaneceu a pergunta: Quem foi Che Guevara?

foto Che 1: http://www.popartuk.com/people/che-guevara/mural-of-che-guevara-on-cuban-wall-12163-poster.asp
foto Che 2: http://be-extreme.blogspot.com/2008/12/nova-t-shirtche-guevara.html

3 comentários:

  1. tens que considerar que de alguma forma o Chatô te marcou! ih ih ih

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  2. Qual o seu livro de banheiro no momento? Nao sei...

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  3. No momento, leio as Épocas que veem junto com a assinatura do Globo. Infelizmente.

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