quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sequencial plano de aniversário!!!

Um blog que cada vez mais se especializa na grande paixão: o plano sequência.

Mais um clipe dos OK Go - White Knuckles

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Calvário Feroz: O insustentÁVEL PeSO da RejeiçÂO. Parte XI

O que faz um diretor como o Kenneth Branagh dirigir o novo filme do super-herói Thor? O que faz Woody Allen sair de Manhattan? Grana, mas não só.
Branagh dirigiu Hamlet (1996), colocando na tela o texto integral da peça num filme de 4 horas. Elogiadíssimo. No entanto, o filme custou 18 milhões de doletas e arrecadou 4.

Woody Allen tem um público fiel, mas escasso. Seus filmes sempre fizeram sucesso nas grandes metrópoles, mas ficaram desconhecidos para o resto do mundo. Ah, mas e Annie Hall (o título no Brasil, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, é um pouco indigesto), o maior sucesso de Allen que ganhou até o Oscar? Custou 4 e arrecadou 38 milhões. Um lucro considerável, mas uma arrecadação pífia se comparado a verdadeiros blockbusters. No mesmo ano, foi lançado Star Wars que arrecadou 35 milhões só no fim de semana de estréia (acumulando uma bilheteria final de 460 milhões só nos EUA). Sacanagem comparar Star Wars com Annie Hall? Outros filmes de 1977 que arrecadaram mais de 100 milhões: Os Embalos de Sábado à Noite, Encontros Imediatos de 3º Grau e Agarre-me se puderes (Smokey and the Bandit com o Burt Reynolds).

Creio que em algum momento, por mais que a crítica elogie, o cineasta sente necessidade de agradar ao grande público. Afinal, os filmes são feitos para serem vistos. Se Rodin tivesse esculpido todas as suas estátuas e as tivesse deixado em um galpão, escondidas dos olhos do público, seriam essas obras consideradas arte? Sempre questionei se pode se chamar de arte, uma obra que é apenas admirada por seu autor... Pode a arte existir sem público?

Muitos cineastas independentes não têm o menor problema (muito pelo contrário) em fazer filmes para nichos, para públicos específicos. Outros, não.

Um exemplo recorrente no Brasil são alguns atores de teatro denso que vão fazer novela. Claro que tem a ver com dinheiro, mas também tem muito a ver com reconhecimento. Em algumas festas ambientadas nas madrugadas surradas do Rio, convivo com alguns deles, que hoje são galãs de novela das oito. Por mais que eles comentem seu desprezo pelas narrativas protagonizadas na Globo, observo que sentem um intenso prazer ao serem reconhecidos, elogiados, assinando autógrafos. Artista gosta de aparecer. Ponto final.
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Enfrentando as brumas burocráticas dos festivais de cinema, já enviei o meu último curta, Ferocidade entre a Urbe e a Flora, para 35. Rejection Rejeição Denied Negado Verboten. Ver listas e listas de selecionados serem divulgadas e não ver o seu nome, é frustrante. É não atrás de não! Dizem que no início de carreira, quando Picasso não conseguia vender um quadro a um marchand, ele jogava-o no lixo assim que saía do atelier.
Nunca arremessei um Dvd pela janela ou quebrei o HD do meu computador após a rejeição de um festival. No entanto, já me comportei de forma reclusa e preguiçosa ao mandar os meus dois curtas anteriores para pouquíssimos festivais. Era como se cada rejeição significasse que ir ao correio enviar mais um filme fosse uma perda de tempo. Sola de sapato gasta à toa.
O anterior, Zero Hora, foi selecionado pelo festival de Brasília. Fiquei orgulhoso e não mandei o filme para mais nenhum festival. Tava cansado de ouvir NãO.
Ferocidade estava empacado. O filme foi exibido na MOSCA (Mostra audiovisual de Cambuquira), mas sem demérito à mostra, antes pelo contrário, não é um festival competitivo.
De oito festivais que deram resposta de seus selecionados, todos tinham subjetivamente barrado o filme. Os olhos brilham e a energia irradia ao ouvir boas novas. Ferocidade entre a urbe e a Flora foi selecionado para o Festival internacional de Oaxaca, no México. Um festival com prêmio alto e que reunirá uma interessante comunidade cinematográfica.
A felicidade bateu à nossa porta. Agora, podem falar não à vontade.

Festival de Oaxaca: www.oaxacafilmfest.com/

sábado, 11 de setembro de 2010

Vivendo o filme CaTástroFE


Sobressalto. Atrasado. Copo de cálcio. Porta fora e metrô.
Entro pela sala de aula. Cadê o professor?
Um avião colidiu com o World Trade Center, disse o colega.
Tinha passado em Tribeca há pouco, quando ainda no trem.
Outro aspirante a cineasta abre a porta da sala. Um segundo avião acaba de colidir, diz ele.
Todos se dirigem para uma das salas de projeção. Telão grande, capacidade para 200 pessoas assistirem os replays da CNN. O avião bate. De outro ângulo. Contra plongé. O outro avião se espatifa. Fumaça. Gritaria.
Viro para um japonês da minha turma. Eu tinha ajudado a colocar o curta super 8 dele nas projeções de final de ano. Ele, grato, me ofereceu uma carona que recusei para não dar trabalho. Dessa vez era diferente. Cobrei a carona daquela noite e ele fez questão de me levar. A fumaça de Manhattan era vista de qualquer ponto do Brooklyn.
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Quando morar em Nova York era apenas um sonho e eu ainda era um turista, passei pelo túnel que liga a New Jersey. Meu pai divagou numa ideia para um filme: e se o túnel explodisse e as pessoas ficassem presas circundadas por água (o túnel atravessa por baixo d'água). Uns anos depois essa mesma ideia foi usada em Daylight com o Stallone. Eles basearam muitas das sequências de ação num filme chamado O Destino do Poseidon com o Gene Hackman (que por sua vez teve um remake em 2006 chamado de Poseidon).
Os filmes catástrofe tiveram o seu auge na década de 70 que contou com os sucessos Inferno na Torre, Terremoto, Aeroporto 74 e o próprio Poseidon Adventure. Os títulos explicitavam onde ocorreriam a mais nova catástrofe repleta de efeitos especiais.
Não foram estas as imagens que se passaram por minha cabeça, no entanto.
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Pensa-se no que está acontecendo. Não foi preciso ser um gênio para deduzir que a probabilidade de dois aviões baterem por acidente nas torres gêmeas era reduzida.
Tão atacando essa porra! Tô no Brooklyn College, subúrbio, sem monumentos de grande importância à minha volta. Rota até a minha casa em Queens, subúrbio. Se eu morasse na Times Square ou perto do Empire State Building, só apareceria por lá no dia seguinte. Nunca foi tão seguro morar no subúrbio.
O Japa acelerou para cruzar Brooklyn/Queens. Dois colegas vinham comigo no banco de trás e outro ia no passageiro. Um cara filmava as torres queimando com uma Sony VX2000 enquanto todo mundo falava ao mesmo tempo em japonês. Eu ficava quieto, olhando aqueles dois charutos de concreto.
Uma torre desmoronou. A câmera filmando. Takahiro, o motorista, diminuiu a velocidade para poder olhar. Já não viu. Foi muito rápido.
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Confesso que fiquei excitado pelo enxaropado Titanic. Para mim tinha valido a pena esperar todo aquele romance de três horas só para ver o navio afundar. Os efeitos foram de grande realismo e me impressionaram. Eu devia ter uns 18 anos e ia constantemente a esses filmes para acompanhar a evolução tecnológica dos efeitos. Armageddon, Twister, Inferno de Dante. Acompanhava tudo isso. Sempre na telona, claro.
No entanto veio uma regressão e os efeitos viraram defeitos especiais. O uso da máquina operante computadorizada ajudou a cortar custos ao explodir virtualmente um caminhão que antes era explodido na real. Quando se misturou a filmagem real com o virtual no fim da década de 80, obteve-se resultados extraordinários. Mas, hoje, os grandes estúdios americanos querem fazer tudo no computador e tornam a diagese pouco convincente. Diagese significa a realidade da narrativa compreendida de forma externa (essa veio da época das minhas aulas de Film Theory).
Os efeitos de hoje em dia não convencem e filmes catástrofe como 2012, se tornam entediantes (bem fraquinha aquela cena do Cristo desmoronando).
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O carro atravessava a highway e com muita sorte passávamos no momento exato que a polícia fechava os acessos. Passamos uns cinco até que não teve mais jeito e tivemos que dar uma baita volta pelo norte de Queens.
Cheguei em casa. A Dora, que dividia o apartamento comigo, estava vidrada na televisão. Sentei ao lado dela. Ficamos um tempo em silêncio até ela dizer - Vim a pé para casa. Andei pra cacete. Eles fecharam o metrô e as pontes. Voltei a fumar de tão nervosa.
Voltamos ao silêncio. Eu acendi um cigarro. O cheiro da fumaça do tabaco era fraca em comparação ao cheiro indescritível que vinha do World Trade Center, que estava do outro lado do rio. Aquele cheiro permaneceu em todos os cantos da cidade por uma semana. O olfato fazia com que todos fizessem parte da tragédia.

Astoria, Queens, 11 de Setembro de 2001

Quadro abstrato do Poseidon: http://www.cinemademerde.com/Beyond_Poseidon_Adventure-abstract.gif