domingo, 31 de maio de 2009

Nem mesmo o AdaMantiUm de Logan me calará!!!

Desde que me casei, ir ao cinema sozinho é fato raro. Quando solteiro, era frequente. Minha mulher estava num plantão em pleno domingão, e, sentindo-me solitário, resolvi ir ao cinema. Nesses inebriantes momentos de turva solidão, nada melhor do que ver um filme sobre um homem solitário. Um loner, algo que sempre me considerei. Não por opção, mas porque eu sou muito chato mesmo e é difícil me aguentar. Sozinho, volto a me comportar, reflito e me reintegro à sociedade. Sim, fui ver, X-Men Origins: Wolverine, dir. Gavin Hood, USA, 2009. Minha mulher disse que não veria esse filme nem pintado de adamantium.
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Ontem, num maravilhoso fondue entre amigos, uma amiga deu a mesma resposta que minha mãe. Na minha fingida (sim, porque eu sei a resposta) indignação, pergunto como alguém pode assistir algo escrito pela Gloria Índia Perez. A resposta é simples: tudo é tão idiota e vazio que o cérebro é desligado e todas as complicações do cotidiano se esvanecem. Ela e minha mãe fazem isso com a Glória Clone Perez e eu faço com filmes de ação. O meu Sex and the City é um Duro de Matar.
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Eu sou o mais extremo rancor representado pelos geeks. Revolta-me quando alteram a história dos quadrinhos por opções piores. Se fizerem um filme com o Batman gay e for muito bom, tudo bem. Podem alterar à vontade. Mas para pior? Se não está quebrado, não conserte.

Porque criar uma história de Abel e Cain em Wolverine se nas HQs nunca foi comprovado que Wolverine e Dentes-de-Sabres são irmãos? Porque fazê-lo sem humor e com plena consciência se nas HQs ele é um baixinho engraçado e desmemoriado? Porque fazer com que as garras saiam do meio dos nós dos dedos se no original elas saem acima dos nós dos dedos? Tá, agora eu sendo implicante.
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O que aconteceria se Wolverine fosse pintado por C.M. Coolidge e Salvador Dali???













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A literatura deixa margens infinitas à imaginação. Quadrinhos limitam um pouco essa imaginação visto que estamos vendo os desenhos no transcorrer das páginas. Imaginamos o movimento do herói socando o vilão, sua voz, os ruídos de Metrópolis, mas vizualizamos muito mais que num romance.

As adaptações de quadrinhos para o cinema foram, na sua maioria, fiascos. Qualitativamente falando.

Os efeitos especiais de antigamente não davam conta do recado e quando se tentava, os resultados eram risíveis. Dependiam de roteiro. E roteiro não tinham. Continuam não tendo. Só que os efeitos especiais de hoje dão conta do recado. O sucesso de filmes baseados em quadrinhos é um sucesso no começo do século XXI. Para muitos, ver Logan voando e cortando a hélice dum helicóptero já vale o ingresso. Eu preferia vê-lo dizendo frases de efeito, transtornado por ser um "animal" e de vez em quando, aí sim, metendo o cacete na galera.

Sin City e 300 são legais porque usam ritmo e visual a seu favor e dependem menos do roteiro apesar de estar lá. O pobre Wolverine ficou orfão de uma boa história. A besteira não foi boa o suficiente para que eu desligasse o cérebro.


Wolverine caricatura: http://leandrofca.blogspot.com/2007_07_01_archive.html
Wolverine Coolidge e Dali: http://superpunch.blogspot.com/2009/03/if-rene-magritte-salvador-dali-and-cm.html

terça-feira, 19 de maio de 2009

Legendas, Cartelas e Tarjas Pretas

As cartelas no cinema mudo serviam para ilustrar diálogos ou ações. O ator falava sem palavras e uma cartela de letras brancas aparecia na tela para traduzir sua boca muda mexendo. Curiosamente, os melhores filmes eram aqueles que tinham poucas cartelas. O povo nunca gostou muito de ler. Dizendo povo, incluo a todos. Conheço burgueses que gostam de ouvir o Woody Allen em português com sotaque carioca. Conheço membros da plebe que só curtem a risada do Eddie Murphy feita pelo dublador.

Uma pesquisa do Datafolha informou que 56% dos brasileiros que frequentam cinema gostam mais de filmes dublados. A maioria das pessoas que vai ao cinema (pagando extorsivos 18 reais por uma inteira no Rio de Janeiro) são pessoas que têm de onde tirar. Assim, cai por terra a teoria que só pessoas com baixo ou nenhum nível educacional preferem os dublados. A galera quer ouvir "Vai se ferrar" e não "Fuck you". Aliás nunca entendi porque "fuck" e seus derivados sempre viram "ferrar" nas bocas dos dubladores...

O canal TNT é o mais assistido da tv a cabo. O TNT é inteiramente dublado. TUDO. Quem tem tv a cabo não é o pobre. O pobre tem gatoNet e não entra no censo.
A classe média não confessa, mas adora ouvir os gringos falando português.
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Achei bem mais ou menos o Quero ser um Milionário/Slumdog Millionaire, dir. Danny Boyle, UK-India, 2008. Também, o filme ganhou o Oscar. Dificilmente seria bom. No entanto, Slumdog tem um grande mérito. Algo bastante original. A legenda. Provavelmente pensando no público americano, que odeia legendas, o diretor tornou as legendas muito mais dinâmicas e fáceis de ler. Danny Boyle coloca as legendas ao lado do personagem, quase como se fossem os pequenos balões das histórias em quadrinhos. Funciona bem nos planos abertos e muito bem nos closes. Achei altamente inovador e acho que a moda vai pegar.
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Fui à pré-estreia de Adagio Sostenuto, dir. Pompeu Aguiar, Brasil, 2009, produzido por Ana Cristina Sauwen. Achei o filme interessante. Um vídeo arte com uma narrativa ficcional. Palmas para o diretor que segurou um filme inteirinho só com um ator em quadro. Mas o que ficou na mente foram as cartelas que apareciam na tela. Filosofias pretensiosas, momentos de auto-ajuda, trechos de romances existencialistas...tudo em texto por cima de imagens muito bem fotografadas. Das imagens, lembro bem das paisagens do campo, do anoitecer urbano, dos fogos de artifício. Do texto, não lembro de nada.
Na faculdade teve uma aula em que o professor disse que nosso cérebro lembra de cerca de 80% das imagens e 20% do diálogo. O cinema é uma linguagem visual e por isso, para muitos, a dublagem é preferida. Meus professores de roteiro martelavam na minha cabeça: se um diálogo pode ser substituído por uma sequência de ações, faça-o. Du Rififi chez les Hommes (na minha lista de obras primas ao lado) tem uma famosa sequência de roubo em que os ladrões ficam 30 minutos do filme sem falar nada. EsPeTacUlar.
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LoUcAMente pesquisando para o roteiro dum futuro doc da minha produtora, deparei-me com esse clipe. Bastante original como o diretor usa ironicamente a tarja preta da censura a seu favor. No caso, o texto é usado como ajuda e gadget audiovisual. Não importa se eu lembro o que dizem as cartelas, elas estão ali apenas para fazer uma graça como "efeito especial" e ajudar no ritmo do clipe. E além do mais é um plano sequência, portanto, na falta de cortes é sempre bom possuir agilidade. O texto das cartelas foi não só original como útil.

Make the Girl Dance: Baby, Baby, Baby (eu falei que o clipe era original, não o nome da música)

domingo, 17 de maio de 2009

Quem sois, Tchê? - uma prolixa crônica falando de biografias longas


Eu tenho uma grande dificuldade com monólogos teatrais. Apesar de diagnosticado que não sofro de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é-me extremamente difícil prestar atenção numa história longa verbalizada por apenas uma pessoa. O personagem é bloqueado e vejo apenas o ator balbuciando algo. Claro que toda regra é sem noção e já vi monólogos incríveis, mas isso é outra serenata.

Quando um interlocutor está contando os tremendos obstáculos que teve de ultrapassar para chegar àquele ponto e local onde trocávamos uma ideia e para para cumprimentar um colega e volta cinco minutos na história dando aquele incrível senso de déjà vu e tudo isso sem vírgulas assim como dizem que Nabokov escreve apesar de nunca ter lido Lolita. Perco-me completamente.
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Algo similar acontece nas biografias cinematográficas diante da minha percepção. Querem contar a vida do cara toda quando talvez isso não seja tão importante assim. Chaplin, 1992, de Sir Richard Attenborough, faz isso. Inicia com um Carlitos pobrinho até, enfim, ele morrer na Suíça tendo como enfermeira a esposa 39 anos mais jovem. Você vê, vê e vê e perde as emoções do personagem porque o filme é apedrejado por diversos fatos históricos e peculiaridades vazias. Esquecem o drama e a emoção em prol de ser justo à biografia do retratado.
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Costumo ter sempre um livro no banheiro. Numa época, o livro era Chatô, de Fernando Moraes. Ele fala tudo sobre a vida de Assis Chateaubriand, mas em momento algum invade a cabeça do biografado. Não especula o que passaria pela cabeça do protagonista. O livro era tão grande que ao ritmo de duas páginas por ida ao banheiro, nunca terminaria de lê-lo. Ao passar a parte que falava sobre o Presidente Arthur Bernardes (tinha que saber sobre o presidente que era meu conterrâneo de Viçosa, MG) desisti do livro. Não conseguia ter interesse por tantos detalhes. Minha tia falava que eu estava lendo o "Chatão". Foi o único livro que não li até o final. Chatô era jornalístico demais.
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Che: The Argentine, 2009, de Steven Soderbergh é jornalístico. É como se o Fernando Moraes tivesse dirigido o filme.

-Che Guevara deu uma bazucada naquele caboclo ali? Então vamo filmá ele dando uma bazucada.
-Che Guevara tossiu subindo essa ladeira aqui? Então vamo produzir essa cena asmática.

O filme propõe ao espectador mostrar-lhe o período Cubista das Havanas:
-Não estilizemos o protagonista e não julguemos suas ações. Não cabe a nós dizer quem foi Che Guevara e sim o público."
Será que um filme de ficção consegue ser tão imparcial? Já é dificil um documentário ser imparcial, o que dizer de uma obra de ficção?

À saída do cinema argumentou-se que é interessante ver esse tipo de filme de gênero histórico. Eu concordei. É interessante. Mas se fosse um filme igualzinho só que num mundo onde Che Guevara nunca existiu, será que seria interessante? Provavelmente não. O filme se sustenta por seus fatos. A ficção do longa é coadjuvante, tornando as emoções insípedas, turvas. As ações de Che no filme não são suficientes para descobrirmos nada sobre ELE como SER.

Vi o argentino Che na ONU, no meio da guerrilha, no México e no final do filme permaneceu a pergunta: Quem foi Che Guevara?

foto Che 1: http://www.popartuk.com/people/che-guevara/mural-of-che-guevara-on-cuban-wall-12163-poster.asp
foto Che 2: http://be-extreme.blogspot.com/2008/12/nova-t-shirtche-guevara.html

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vim, Vi, Curti (ou NÃO)

KINO: Synecdoche, New York/Sinédoque, NY, dir. Charlie Kaufman, USA, 2008: Um filme cabeça com um ritmo de filme comercial (como só os americanos sabem fazer). Existencialismo presente em cada frame. O melhor filme/roteiro de Charlie Kaufman.

An art film with a commercial film rhythm (like only Americans know how to do). Existencialism is present in every frame. The best Charlie Kaufman film/script so far.





BETAMAX: La Haine/O Ódio/The Hate, dir. Mathieu Kassovitz, France, 1995:

Retrato profundo da xenofobia e exclusão no subúrbio de Paris. Apesar da interpretação fraca de Hubert Koundé as vezes nos tirar um pouco do filme, Vince Cassel dá show e a direção é tão boa que esquecemos tal detalhe. A cidade luz não existe aqui.

Profound portrait of the xenophobia and exclusion in the suburbs of Paris. Even though Hubert Koundé delivers a weak performance that sometimes removes you from the story, Vince Cassel is spectacular and the direction is so good that we forget such detail. The city of lights does not exist here.


ANTENA: Força Tarefa, dir. José Alvarenga Jr., Brasil, Tv Globo, 2009:

Qualquer um que gosta de séries policiais, sabe que o foco tem que estar nos dramas da vida dos policiais/detetives. Os casos em si só existem para revelar ainda mais sobre os protagonistas. Não foi o que aconteceu no piloto desta série. O caso teve mais tempo no ar do que os protagonistas. E a resolução do caso acontece devido a uma denúncia e não ao trabalho de dedução e investigação dos policiais. Se bem que com a polícia brasileira, só assim mesmo para solucionar um caso.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Busca Eterna de uma Felicidade Incessante

Revolutionary Road/Foi Apenas um sonho (2008, dir. Sam Mendes, USA) e Synecdoche, NY/Sinédoque, NY (2008, dir. Charlie Kaufman, USA) expõem a busca do sonho. A conquista do almejado objetivo de vida. Tal realização pessoal levará ao NirvanA e responderá qual o significado da vida. Pelo menos assim acredita-se…
Porque parece tão louco aos amigos do casal, interpretado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, a ideia de abandonar tudo para ir viver na França para descobrir o seu objetivo de vida, o seu sonho? – pergunta Sam Mendes, o diretor. Viver uma vida num emprego que não se gosta, morar numa casinha sem personalidade, conviver com pessoas que desistiram de ser felizes é são. Resolver largar tudo isso em busca da felicidade é insano.

Charlie Kaufman traz um personagem que dedica sua vida à direção e construção duma peça teatral autobiográfica. A medida que sua vida transcorre, o diretor teatral vai acrescentando esses elementos à peça e praticamente uma cidade é construída para que a obra seja encenada. O protagonista tem o sonho de realizar uma obra pessoal, que tenha um significado para ele, mas como ele não sabe o que fazer em sua vida, ele não sabe como terminar a peça.

O que afeta nossa auto-estima? Porque paramos de perseverar e desistimos de nossos sonhos? Porque o artista é tão afetado pela rejeição?
Quantas negativas o artista toma na cara até o fim de seus dias? Começa na infância ou adolescência quando se informa a família da decisão profissional. Os amigos NÃO entendem. O ator faz mil testes de elenco e NÃO consegue um papel. O diretor lê no site do Ministério da Cultura que o seu filme NÃO foi agraciado com um edital. A banda tem um repertório mas NÃO tem onde tocar.

O artista mistura o lado profissional com o pessoal. Ele vive e lida com a carga emocional a todo instante. Seu trabalho É em torno da emoção. Se ele se sente rejeitado na vida, isso interfere na sua arte e o contrário também se aplica. Começa a se questionar se é bom. “Será que eu sou foda mesmo?”
Por temor, para não ouvir mais um não, se reclusa. Põe de lado o sonho. “Amanhã eu faço!” Eu já me senti assim durante um bom tempo.

Tocamos projetos dos outros porque estão ali na nossa frente, porque nos dão grana. E os nossos projetos? Nós também temos projetos!!! Só nós mesmos podemos tocá-los para a frente.

Opinião a Serviço de sua Majestade


Entrando pelos meus ouvidos
You Know I'm No Good de Amy Winehouse em que ela gane: “By the time I'm out the door/You tear men down like Roger Moore (Na hora que eu passar a porta/Você derruba homens como o Roger Moore).”

Interessados pelo mundo, cidadãos de Ian Fleming, dirão que Sean Connery foi o James Bond definitivo. O sensual sátiro emancipador da virilidade do macho primata ômega. Eu sempre fui mais o Roger Moore.
Iniciei-me nos 007 quando moleque. Acho que a criança vive para gargalhar. Tudo feito para criança tem um toque de humor. Sempre feito para rir. Roger Moore não se levava tão à sério. Sean Connery era sério demais. Roger Moore deitava a Bond Girl na cama na maciota. Sean Connery arremessava a Bond Girl para a cama. Roger Moore apanhava de mulher; da Grace Jones!!! Sean Connery esbofeteava a mulher.
Acho que Roger Moore chegou a olhar direto na lente em um de seus inúmeros filmes. Encarando o espectador. Desafiando. Debochando. O cara era muito engraçado.

Para o novo James Bond, Roger Moore recomendaria: “Sorria, meu filho. Loosen up. Parece que você tá com um gadget do Q dentro da cueca. Sorria.”
Eu sempre fui mais o Roger Moore.