terça-feira, 19 de maio de 2009

Legendas, Cartelas e Tarjas Pretas

As cartelas no cinema mudo serviam para ilustrar diálogos ou ações. O ator falava sem palavras e uma cartela de letras brancas aparecia na tela para traduzir sua boca muda mexendo. Curiosamente, os melhores filmes eram aqueles que tinham poucas cartelas. O povo nunca gostou muito de ler. Dizendo povo, incluo a todos. Conheço burgueses que gostam de ouvir o Woody Allen em português com sotaque carioca. Conheço membros da plebe que só curtem a risada do Eddie Murphy feita pelo dublador.

Uma pesquisa do Datafolha informou que 56% dos brasileiros que frequentam cinema gostam mais de filmes dublados. A maioria das pessoas que vai ao cinema (pagando extorsivos 18 reais por uma inteira no Rio de Janeiro) são pessoas que têm de onde tirar. Assim, cai por terra a teoria que só pessoas com baixo ou nenhum nível educacional preferem os dublados. A galera quer ouvir "Vai se ferrar" e não "Fuck you". Aliás nunca entendi porque "fuck" e seus derivados sempre viram "ferrar" nas bocas dos dubladores...

O canal TNT é o mais assistido da tv a cabo. O TNT é inteiramente dublado. TUDO. Quem tem tv a cabo não é o pobre. O pobre tem gatoNet e não entra no censo.
A classe média não confessa, mas adora ouvir os gringos falando português.
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Achei bem mais ou menos o Quero ser um Milionário/Slumdog Millionaire, dir. Danny Boyle, UK-India, 2008. Também, o filme ganhou o Oscar. Dificilmente seria bom. No entanto, Slumdog tem um grande mérito. Algo bastante original. A legenda. Provavelmente pensando no público americano, que odeia legendas, o diretor tornou as legendas muito mais dinâmicas e fáceis de ler. Danny Boyle coloca as legendas ao lado do personagem, quase como se fossem os pequenos balões das histórias em quadrinhos. Funciona bem nos planos abertos e muito bem nos closes. Achei altamente inovador e acho que a moda vai pegar.
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Fui à pré-estreia de Adagio Sostenuto, dir. Pompeu Aguiar, Brasil, 2009, produzido por Ana Cristina Sauwen. Achei o filme interessante. Um vídeo arte com uma narrativa ficcional. Palmas para o diretor que segurou um filme inteirinho só com um ator em quadro. Mas o que ficou na mente foram as cartelas que apareciam na tela. Filosofias pretensiosas, momentos de auto-ajuda, trechos de romances existencialistas...tudo em texto por cima de imagens muito bem fotografadas. Das imagens, lembro bem das paisagens do campo, do anoitecer urbano, dos fogos de artifício. Do texto, não lembro de nada.
Na faculdade teve uma aula em que o professor disse que nosso cérebro lembra de cerca de 80% das imagens e 20% do diálogo. O cinema é uma linguagem visual e por isso, para muitos, a dublagem é preferida. Meus professores de roteiro martelavam na minha cabeça: se um diálogo pode ser substituído por uma sequência de ações, faça-o. Du Rififi chez les Hommes (na minha lista de obras primas ao lado) tem uma famosa sequência de roubo em que os ladrões ficam 30 minutos do filme sem falar nada. EsPeTacUlar.
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LoUcAMente pesquisando para o roteiro dum futuro doc da minha produtora, deparei-me com esse clipe. Bastante original como o diretor usa ironicamente a tarja preta da censura a seu favor. No caso, o texto é usado como ajuda e gadget audiovisual. Não importa se eu lembro o que dizem as cartelas, elas estão ali apenas para fazer uma graça como "efeito especial" e ajudar no ritmo do clipe. E além do mais é um plano sequência, portanto, na falta de cortes é sempre bom possuir agilidade. O texto das cartelas foi não só original como útil.

Make the Girl Dance: Baby, Baby, Baby (eu falei que o clipe era original, não o nome da música)

4 comentários:

  1. Sabe que eu vi Laranja Mecânica num antigo cinema de rua na Tijuca e com as tarjas pretas por conta da censura?? Nem lembro que ano foi aquilo... porra... tô velho merrrrmo!

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  2. dublagem é o O! FAÇO PARTE DO GRUPO ODEIO FILMES DUBLADOS.

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  3. Rue Montergueil - a mais bacana de Paris.

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  4. ja estive em Paris duas vezes e não sabia onde era. Valeu pelo toque.

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