quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Calvário Feroz: Aplauso ERETO para a PeÇa EscoceSA. Parte IX

Debatido e comentado exaustivamente em diversas postagens deste blog; todos sabem que o curta que rodei no ano passado foi um plano sequência. Mesmo assim continuo ouvindo a pergunta: Já editou? Parece uma pergunta sem lógica visto que não existem cortes a serem feitos, mas no fundo, tem razão de ser. Só que, a edição está no som.

Pela primeira vez trabalho com um técnico de som profissional e também estreio no desenvolvimento de uma trilha sonora original.

Nos meus filmes anteriores, eu mesmo fiz a mixagem (no primeiro não foi preciso porque era um curta em super-8, ou seja, mudo). No segundo (Out of the Prohibition Era) atingi um resultado satisfatório, mas no terceiro (Zero Hora), nem tanto. O Zero Hora foi selecionado para o festival de Brasília - uma honra- mas creio que não entrou em muitos outros festivais devido a problemas no áudio. O filme sempre foi elogiado quanto ao seu conteúdo e direção, mas sempre recebeu críticas quanto ao som. Fiquei muito revoltado ao assistir curtas pífios em festivais que recusaram o meu filme. A aceitação pelo júri/público e seus subsequentes aplausos são a razão de viver do cineasta.
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Fui assistir a um ensaio aberto de MacBeth dirigido por Aderbal Freire Filho e com Daniel Dantas como protagonista. Reza a lenda que MacBeth é uma peça amaldiçoada. Os supersticiosos teatrais se recusam a chamá-la pelo nome, referindo-se a ela apenas como a "Peça Escocesa". Minha cunhada, que é portuguesa, acompanhava-me.
Aparentemente, a maldição voltou a atacar. O ar condicionado quebrou, Daniel Dantas e companhia cuspiam o texto, impossibilitavam qualquer arco dramático e a ação movia a passo de caracol. Se eu estava suando, imagina os atores com figurino repleto de casacos pesados...

No final, o público aplaudiu de pé. Olhei para minha cunhada que não entendia nada. Curiosamente, não era pela lendária burrice atribuída aos Lusitanos. Era justamente o contrário. Portugal tem uma história teatral que iniciou-se no século XV com o dramaturgo Gil Vicente. O teatro brasileiro começou a aquecer em meados do século XX. São cinco séculos de diferença.
Nos teatros lisboetas é inconcebível que se aplauda uma peça que seja menos que estupenda. Aqui no Brasil qualquer - repito: qualquer- peça é aplaudida de pé. O nosso senso crítico para as artes está no chão. O termo "aplaudido de pé" já não tem qualquer valor.

Conheço vários atores que odeiam a crítica teatral Bárbara Heliodora. Eles dizem que ela é cruel e que destrói carreiras. Pois eu adoro a Bárbara Heliodora. É a única que tem coragem de dizer com classe mordaz que uma peça está uma merda. Se a Bárbara fosse crítica de televisão, a Rede Globo mandaria matá-la na primeira resenha sobre Malhação.

Minha cunhada continuou martelando sobre o ridículo aplauso ereto e não aguentando mais, eu disse: "Tá, mas os brasileiros são muito melhor atores que os portugueses". Enfim, o silêncio. Quem cala, consente.
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Cidadão Kane tem uma das mais famosas cenas de aplauso da história. O protagonista vivido por Orson Welles tenta emplacar sua amante como cantora de ópera. Ele que sempre conseguiu tudo devido ao seu imenso poder na mídia, não consegue que os críticos elogiem sua cônjuge (ela é ruim de dar dó). Chega ao fim mais uma de inúmeras apresentações fracassadas. O público sequer aplaude. Irritado, o magnata levanta-se e começa a aplaudir insanamente. Só se ouve sua ovação. Patético, impotente, ele para e senta-se.
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A trilha sonora do meu filme - Ferocidade: entre a Urbe e a Flora- tem evoluído entre gaitas e sons de cigarras. Espero concluir essa mixagem até o início do carnaval. Quero esse filme pronto logo. Quero que as pessoas assistam. E mais que tudo, QUERO que me aplaudam- sentados ou em pé.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O que aconteceria se VOCÊ não tiveSSe MeDo?

Li o título desta postagem num grafite na Tijuca. Voltava de carro com a minha mulher e a pichação estava num prédio, num 5º ou 6º andar. Será que o pichador teve medo de subir tão alto?
As palavras me afetaram porque estava pensando em algo parecido nos últimos meses (e escrito várias postagens sobre isso no blog): O que aconteceria se EU não tivesse medo de tentar?
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Sempre me considerei El Niño do talento. Uma força devastadora que atropela tudo com sua originalidade. As pessoas falam sobre a minha força de forma positiva. No entanto, o ciclone Márcio permanece estático no oceano da procrastinação, sem nunca dar as caras em terra para mostrar seu poder de "destruição". Preferi ser um tufão famoso nas águas do que encarar a possibilidade de perder minha potência e me tornar um redemoinho em terra firme.
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Em Gênio Indomável, o protagonista vivido por Matt Damon tem um QI mil vezes superior ao dos outros reles mortais. No entanto, o medo de ser tão diferente de seus amigos proletários de infância o impede de buscar qualquer objetivo na vida que não seja se meter em confusões e de pular de um emprego chinfrim para outro. Ele trata sua alta capacidade intelectual como uma maldição que o afasta da normalidade que ele supostamente almeja. A contradição surge quando ele não resiste a resolver equações matemáticas altamente complexas ou a demonstrar que conhece de cor livros de economia. Tais atitudes demonstram que ele gosta de possuir um conhecimento exacerbado, mas assim como um feiticeiro demasiadamente poderoso, teme seus próprios poderes. Good Will Hunting é daqueles filmes comerciais hollywoodianos que sempre me dão intenso prazer em assistir até o final, quando tudo acaba bem. Acho que sempre gostei do filme porque assim como o protagonista, sempre me achei um cara que mantém o seu talento recluso com temor da opinião alheia. Um artista vive para ter um público, mas esse público pode ser fã ou inimigo, e, todos temem seus inimigos.
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O medo serve como um alerta para situações que consideramos perigosas, sejam elas físicas ou psicológicas. O medo pode ser benéfico ou maléfico, dependendo de sua intensidade ou constância.

O que aconteceria se NINGUÉM tivesse medo? Veríamos o Baixinho da Kaiser enfrentando o Vitor Belfort. As velhinhas dirigiriam a 200 km/h. O mundo seria um caos.

Quando era adolescente, briguei com dois caras que me meteram o cacete. Só fiquei com a boca inchada porque o dono do bar interviu e isso me deu tempo de levantar e sair fora. Caso o dono da birosca não tivesse entrado no meio da confusão, não sei em que estado teria saído de lá. A briga só começou porque eu me senti na obrigação de machão de defender uma menina que eu mal conhecia. Fui petulante e inconsequente e me ferrei.

Foi quando ouvi pela primeira vez a frase: "É melhor ser um covarde medroso vivo, do que um herói corajoso morto." Já tinha ouvido - "Quem tem cú, tem medO" - mas por alguma razão não tinha achado muito filosófico. Hoje, acredito que não posso ser um covarde ou herói 100% do tempo, e sim, mesclar ambos nos devidos momentos. O herói que enfrenta porteiros de boate, briga com desconhecidos ou pula de paraquedas já existe há alguns anos. Esse herói só me deu problemas. Desejo que surja o herói que escreve sem parar, que desenvolve seus projetos e luta por seus sonhos e objetivos de vida.

Se o filme 2012 estiver certo e o mundo for mesmo acabar daqui há dois anos, tenho pouco tempo. O furacão precisa chegar logo em Vera Cruz.

Imagens: 1-foto título: http://s419.photobucket.com/albums/pp271/misstybooo/?action=view&current=Fear_by_seppe123.jpg&newest=1

2-O Grito de Edvard Munch.