quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Calvário Feroz: O insustentÁVEL PeSO da RejeiçÂO. Parte XI

O que faz um diretor como o Kenneth Branagh dirigir o novo filme do super-herói Thor? O que faz Woody Allen sair de Manhattan? Grana, mas não só.
Branagh dirigiu Hamlet (1996), colocando na tela o texto integral da peça num filme de 4 horas. Elogiadíssimo. No entanto, o filme custou 18 milhões de doletas e arrecadou 4.

Woody Allen tem um público fiel, mas escasso. Seus filmes sempre fizeram sucesso nas grandes metrópoles, mas ficaram desconhecidos para o resto do mundo. Ah, mas e Annie Hall (o título no Brasil, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, é um pouco indigesto), o maior sucesso de Allen que ganhou até o Oscar? Custou 4 e arrecadou 38 milhões. Um lucro considerável, mas uma arrecadação pífia se comparado a verdadeiros blockbusters. No mesmo ano, foi lançado Star Wars que arrecadou 35 milhões só no fim de semana de estréia (acumulando uma bilheteria final de 460 milhões só nos EUA). Sacanagem comparar Star Wars com Annie Hall? Outros filmes de 1977 que arrecadaram mais de 100 milhões: Os Embalos de Sábado à Noite, Encontros Imediatos de 3º Grau e Agarre-me se puderes (Smokey and the Bandit com o Burt Reynolds).

Creio que em algum momento, por mais que a crítica elogie, o cineasta sente necessidade de agradar ao grande público. Afinal, os filmes são feitos para serem vistos. Se Rodin tivesse esculpido todas as suas estátuas e as tivesse deixado em um galpão, escondidas dos olhos do público, seriam essas obras consideradas arte? Sempre questionei se pode se chamar de arte, uma obra que é apenas admirada por seu autor... Pode a arte existir sem público?

Muitos cineastas independentes não têm o menor problema (muito pelo contrário) em fazer filmes para nichos, para públicos específicos. Outros, não.

Um exemplo recorrente no Brasil são alguns atores de teatro denso que vão fazer novela. Claro que tem a ver com dinheiro, mas também tem muito a ver com reconhecimento. Em algumas festas ambientadas nas madrugadas surradas do Rio, convivo com alguns deles, que hoje são galãs de novela das oito. Por mais que eles comentem seu desprezo pelas narrativas protagonizadas na Globo, observo que sentem um intenso prazer ao serem reconhecidos, elogiados, assinando autógrafos. Artista gosta de aparecer. Ponto final.
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Enfrentando as brumas burocráticas dos festivais de cinema, já enviei o meu último curta, Ferocidade entre a Urbe e a Flora, para 35. Rejection Rejeição Denied Negado Verboten. Ver listas e listas de selecionados serem divulgadas e não ver o seu nome, é frustrante. É não atrás de não! Dizem que no início de carreira, quando Picasso não conseguia vender um quadro a um marchand, ele jogava-o no lixo assim que saía do atelier.
Nunca arremessei um Dvd pela janela ou quebrei o HD do meu computador após a rejeição de um festival. No entanto, já me comportei de forma reclusa e preguiçosa ao mandar os meus dois curtas anteriores para pouquíssimos festivais. Era como se cada rejeição significasse que ir ao correio enviar mais um filme fosse uma perda de tempo. Sola de sapato gasta à toa.
O anterior, Zero Hora, foi selecionado pelo festival de Brasília. Fiquei orgulhoso e não mandei o filme para mais nenhum festival. Tava cansado de ouvir NãO.
Ferocidade estava empacado. O filme foi exibido na MOSCA (Mostra audiovisual de Cambuquira), mas sem demérito à mostra, antes pelo contrário, não é um festival competitivo.
De oito festivais que deram resposta de seus selecionados, todos tinham subjetivamente barrado o filme. Os olhos brilham e a energia irradia ao ouvir boas novas. Ferocidade entre a urbe e a Flora foi selecionado para o Festival internacional de Oaxaca, no México. Um festival com prêmio alto e que reunirá uma interessante comunidade cinematográfica.
A felicidade bateu à nossa porta. Agora, podem falar não à vontade.

Festival de Oaxaca: www.oaxacafilmfest.com/

5 comentários:

  1. Parabéns.Há certos "nãos" que são motivo de orgulho quando se ve para quem foram os "sims", embora isto não sirva de consolo e doa muito na hora e sempre "pica" pela vida fora,gosto do que vejo qdo olho p trás. Continuo persistente fazendo o que gosto e acredito - obsessivamente! Seja persistente, obsessivo e produza excessivamente, valeu e vale a pena.bjs,

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  2. parabéns Marcio.
    que seja só o começo. Manda ver.

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  3. Parabéns Márcio! Continua a enviar novidades!

    Abraço,

    Tiago

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