segunda-feira, 6 de julho de 2009

Calvário Feroz: a realização de mais um curta metragem. Parte I


Conheci brevemente Darren Aronofsky quando morava em NY. Simpático, ele transmitia otimismo em tudo que falava. Todas as suas frases terminavam com um sorriso. Hoje me lembrei do otimismo desse diretor que tanto me inspira.

Darren Aronofsky declarou no making of de Requiem for a dream que após fazer Pi e ganhar o prêmio de melhor diretor em Sundance, achou que seria fácil fazer seu segundo filme. Ele tinha 30 anos de idade e com apenas um filme na gaveta (rodado por 60 mil dólares) já era considerado um dos mais promissores cineastas americanos. Os executivos dos grandes estúdios disseram que ele poderia escrever o que ele quisesse que eles bancariam o filme. Aronofsky adaptou Requiem for a dream do livro de Hubert Selby Jr. e ouviu dos mesmos executivos que eles nunca poderiam bancar tal história. Quem já viu o filme, repleto de junkies vivendo de heroína, sabe porquê. Acabou tendo que fazer o filme com um orçamento apertado, de forma independente. Concluindo, Aronofsky disse que o segundo filme foi mais difícil do que o primeiro. Imagino que o terceiro, The Fountain, deve ter sido ainda mais difícil visto que foi lançado seis anos depois de Requiem. De 1998 até 2008, Darren fez quatro filmes. Pouco para os padrões americanos.
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Eis que inicio a pré-produção do meu terceiro curta: Ferocidade - entre a Urbe e a Flora. Já me deparo com o filme mais difícil de minha autoria. Não me refiro aos apectos técnicos, e sim, ao que a obra demanda de mim. Uma demanda psicológica intensa que me leva a estados que alternam entre a depressão e a euforia. A pré-produção, que inclui toda a preparação nos mínimos detalhes para a filmagem, é a fase que mais me esgota. É a etapa que questiono ininterruptamente a qualidade do projeto e o meu talento em realizá-lo. O medo do fracasso é imenso.
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Escrevi Ferocidade ainda na faculdade em 2003. Tinha escrito para rodá-lo para uma aula de direção. Acabei tendo que trancar a aula porque estava no meu último semestre finalizando meu curta de conclusão de curso. O tempo era escasso e acabei não filmando esse roteiro.

Em 2005 finalizo Zero Hora e desde então adio todos os meus projetos artistícos.

É duro dizer isso abertamente, mas na verdade, a razão dessa procrastinação é o medo de errar. Obviamente, não existe certo ou errado na arte (talvez nem mesmo na vida), mas todos os trabalhos artistícos são julgados. Eu não lido bem com críticas negativas. Se dizem que o roteiro é confuso, me sinto ofendido. Quando mando um filme para um festival e este não é aceito, me sinto fracassado.

Peno ao pensar que já estou no Rio de Janeiro há quatro anos e que criei muito pouco. Dou como desculpa o fato de ter que trabalhar filmando institucionais para a Petrobras ou editando campanhas políticas. Sim, preciso de dinheiro, mas no fundo sei que isso são desculpas esfarrapadas. Eu sei e pessoas próximas a mim também sabem que sempre temos tempo para criar.

Estou numa midlife crisis há cinco ou seis anos que precisa se encerrar. Sempre digo aos meus amigos artistas que a obra tem que ser considerada boa pelo próprio autor que só assim conseguirá agradar a seu público. Tenho ignorado minha própria máxima. Fico preocupado com o que acharão, o que pensarão, se gostarão... Tudo isso é implícito em mim. Na maioria das vezes não percebo que estou enrolando o projeto devido a esse medo. Tenho que enfrentar esse medo da rejeição assumindo-o.
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Inicio neste blog uma espécie de diário de produção para lutar contra mim mesmo. Eu sou meu maior inimigo e irei combatê-lo. Ao tornar público este projeto, obrigo-me a prossegui-lo. Está aqui, gravado nas páginas da world wide web o meu comprometimento com a conclusão deste filme. Agora não tem mais volta. Márcio B. Venturi vencerá Márcio Monteiro Ventura Leite.
foto: Darren Aronofsky com Mickey Rourke no set por Annie Leibovitz

4 comentários:

  1. Assim como vc escreveu, eu tb sou meu maior inimigo. Tenho tentado vencê-lo (ou vencer-me, sei lá), mas é uma luta árdua e muitas vezes ingrata.
    Tb sou crítico demais em relação às minhas criações, sejam elas um simples texto no meu blog ou um roteiro de um documentário ou um curta qquer. Aliás, desde semana passada tenho vivido uma espécie de "branco criativo", ou seja: não tem saído nada de interessante de dentro da minha cabeça, meu camarada.
    Boa sorte na sua produção. Se precisar de uma ajudinha, conte comigo!

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  2. Uma vez vc disse algo como: eu sei o que preciso fazer, só não comecei a caminhar ainda, já vc caminha sem saber onde quer chegar. Lembrei disso qdo li esse post seu! Hj já sei pra onde estou indo e continuo caminhando como antes, menos perdida e pelo jeito vc também já começou a dar seus primeiros passos. Estamos no caminho então...

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  3. Também estou sempre disponível, como sabe. Para td: marcar lugar do ator, cozinhar, dirigir, carregar equipamento neste momento não posso ...
    Ifelizmente é genética esta bendita mania da perfeição. Pq meu livro n sai? já são dois iniciados. Tb vou por meu bloco - Blog - na rua p acabá-los.

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  4. Obrigado pela força, amigos. Fico feliz que estão acompanhando o blog, pois através dele tenho me expressado de uma forma que me deixa a conhecer melhor.

    beijos em todos

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