terça-feira, 11 de agosto de 2009

Calvário Feroz: Enquanto a grama cresce, o cavalo passa fome. Parte IV

Vendo que os atores do filme não teriam tempo de ensaiar durante a semana passada e, na ausência de minha patroa, decidi ir a BH visitar minhas avós e um amigo.
Nas 5 horas em que dirigia, tentava elucidar-me de motivos emocionais para cada parte do filme, a fim de saber onde posicionar a câmera e ter um porquê para tal. Missão ingrata devido a estúpida necessidade de prestar atenção na estrada e nas belas paisagens que circundavam o veículo.

Tagarelei com avós, primos, tios e amigo e nos momentos de pausa, li. Busquei na "biblioteca" um livro que falasse de cinema, de preferência, com uma história de superação. Encontrei Brando - Canções que minha Mãe me Ensinou.

Típico exemplo do mito americano do self made man, Marlon Brando passou de caipira a ícone do teatro e cinema. Aluno de Stella Adler, Brando revolucionou o método de interpretação, trazendo naturalidade e realismo a seus personagens. A sua geração e todas as seguintes foram influenciadas por ele. Basicamente, muitos americanos (e não só) consideram-no o maior ator de todos os tempos.

O que me chamou a atenção em sua biografia foi o fato dele querer sempre trabalhar o mínimo possível. Inventava doenças, desaparecia do set e reescrevia seus diálogos com intuito de diminuir a sua participação no filme. Um ator considerado genial, que queria fazer o seu trabalho o mais rápido possível para poder voltar para sua ilha no Taiti, suas pescarias e suas nativas da Polinésia.
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Teve uma época que sentia vergonha de mim mesmo por me sentir angustiado e tenso durante a realização de um filme. Minha vontade era que aquilo acabasse logo. Queria que todos os atores, aquelas luzes e refrigerantes repletos de cafeína sumissem da minha frente. Todos os prazeres do processo cinematográfico são para mim altamente torturantes e masoquistas. O único prazer pleno, puro e virginal é assistir ao filme pronto. Ponto final.

Decidi não mais ter vergonha disso e assumir, contentar-me. Prefiro não entrar na parte psicológica do porquê de tamanha angústia ao filmar, mas posso dizer que deve-se em grande parte ao fato de temer o fracasso. Esse temor, faz com que sofra durante atrasos na iluminação, erro de atores e mudanças climáticas. Mantenho-me num estado de incessante controle artístico que busca pela "perfeição" a todo instante que se choca com um estado de incessante vontade que aquilo tudo acabe logo. O embate desses dois estados de alerta esgotam-me de tal forma que parece que filmei durante um ano.
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Apercebi-me hoje que faltam 20 dias para o início das filmagens. Entrei em TPF (tensão pré-filme) e sucumbi à vontade de comprar um maço de cigarros. Parar de fumar é ainda mais difícil do que dirigir um filme.
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Quando Júlio César venceu a batalha de Zela, na atual Turquia, ele escreveu: Vim, Vi, Venci. Brinco com essa frase aqui no blog no espaço que dedico à dar opinião sobre filmes que vi recentemente (Vim, Vi, Curti - ou Não).

Sempre tive o hábito de pensar nessa frase quando cismo de me enclausurar em casa vendo tv quando tenho mil coisas para fazer. A outra frase é o ditado arcaico inglês que dá título a essa postagem e que eu li em Hamlet.

GRRRRRRRRRRRRRRRRRR! Ganhando forças... Sai de mim ÓCIO!!!
Saiu. Preciso marcar esses malditos ensaios.
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Olho para o lado e vejo o maço de Marlboro. O símbolo da Philip Morris tem dois cavalinhos, num brasão de armas que diz em baixo: Veni, vidi, vici. Pelo menos a indústria de cigarros está pensando positivo...

2 comentários:

  1. Vá pensar positivo no raio que os parta! A bolsa de agua quente cuidadosamente segura pelas pontas caiu-me dolorosamente nas pernas descobertas ao ver este Malboro em reentré. Mas eu sou e sempre serei a mulher de César - além de ser honesta tem que demonstrar que o é. Morte ao lindo, e maldito Malboro, viva à vida e à criação, a depressão é inerente e superavel.!

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