quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fanfarrão Digere gnocchi enquanto Capitão Digressa

Divagando pela noite carioca eis que adentro a pré-estréia da peça Confronto, dirigida por Domingos de Oliveira. A peça é baseada na segunda parte do livro Elite da Tropa, por Luiz Eduardo Soares, André Batista e Rodrigo Pimentel. O filme Tropa de Elite aborda os homens do front de batalha, Confronto aborda os bastidores políticos. Interessante, apesar dos altos e baixos.
Após a peça, através de amigos em comum, sento-me para jantar numa cantina italiana ao lado de ninguém mais ou menos que o capitão Nascimento, vulgo Rodrigo Pimentel. A presença desse homem me fez lembrar de momentos chaves na construção da minha identidade audiovisual.
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Ano 2000, de férias em Viçosa, assisto com um maluco ao documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles.
Além de todas as qualidades desse filme, duas declarações me marcaram profundamente.

"A sociedade quer uma polícia que não seja corrupta? É fácil. Se parar em lugar proibido vai ser multado. O Posto 9, a galera que cheira em ipanema, vão ser autuados. Mandado de prisão na Delfim Moreira. A sociedade está pronta para isso?" Hélio Luz, na época chefe da polícia civil do Rio, declara.

Rodrigo Pimentel, ainda capitão do BOPE, declara num suspiro de desesperança: "Nós matamos um traficante. Eles matam um policial. Não vejo luz no final do túnel. Eu estou participando de uma guerra. A única diferença é que todo dia eu volto para casa".

Quando comprei o dvd City of God (estrelando Lil Zé, Rocket and Benny), um dos extras era esse documentário. Desde então já o revi várias vezes.
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Na cantina Donana, Rodrigo Pimentel contou sobre suas experiências como escritor, comparou os livros de Syd Field e Doc Comparato e dissertou sobre a violência (sem ser demagogo). O Pimentel contemporâneo consegue ver uma luz no fim do túnel. Acho que ter saído da polícia deve ter ajudado...
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Onde você estava quando o Zico perdeu o pênalti contra a França em 86? Na casa dum vizinho em Viçosa-MG.
Onde você estava quando o Ayrton Senna morreu? Também em Viçosa, na cama, dormindo (Fórmula-1 é muito cedo) .
Onde você estava durante o sequestro do ônibus 174? Saindo para a faculdade em Nova York.
Essa tragédia pontilhou e marcou a ferro minha memória. Na altura ainda não tinha noção da proporção, mas fui ficando. Ainda dava para chegar na aula a tempo. Sentei no sofá e fui acompanhando a Globo Internacional. Quando dei por mim, já estava fumando, sem camisa e não lembrava mais da aula.

Repórteres que não respeitavam a barreira policial com seus closes alarmantes, o povão que parecia ver uma peleja em pleno Coliseu, a polícia que seguia impassível e todos querendo o sangue de Sandro, o sequestrador.
Que filme maravilhoso eu poderia fazer se aquelas imagens caíssem em minhas mãos. José Padilha estava no Rio, ao contrário de mim. José Padilha tinha o dinheiro para comprar os direitos de transmissão daquelas imagens. E José Padilha dirigiu Ônibus 174.
Uma lição de cinema. Reúne o melhor do documentário americano com emoção na narrativa ao melhor do brasileiro com suas lentes telephoto e toda sua claustrofobia. A edição de Felipe Lacerda, co-diretor do filme, é impressionante.

Novamente, Rodrigo Pimentel aparece em minha vida. Neste filme, ele já saiu da polícia, e depõe como ex-capitão. Aponta as intensas babaquices cometidas na operação do ônibus e aparenta um ar mais tranquilo. Acho que ter saído da polícia deve ter ajudado (bis).
Cidade de Deus (auxiliado pelo doc Notícias... no meu dvd americano) e Ônibus 174 foram grandes responsáveis pela minha volta ao Brasil em 2005.
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Mastigando meu gnocchi, continuo ouvindo Pimentel. Rodrigo como autor é bem melhor do que como capitão Nascimento.
Obviamente, não sou uma daquelas lendárias velhinhas que confundem o vilão da novela com o ator que o interpreta. Impossível achar que o capitão Nascimento é 100% o Pimentel. No entanto, pelo sim, pelo não, comi minha massa sem fanfarronices e saí sem pedir.

4 comentários:

  1. é impressão minha ou velho b. johnny segue uma linha diogo mainardiana agora? rsrs
    Na boa, seu blog tá cada vez mais interessante!

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  2. mas que merda de censura hein! pra que ter que aprovar..?

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  3. Eu penso que o Diogo Mainardi fala as coisas da boca pra fora com intenção cómica ou escandalizadora. Nem acho que ele odeia o Lula. Eu exponho as minhas ideias de forma mais franca (e desorganizada) Sem falar que ele é muito mais engraçado do que eu.

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  4. Quanto à "censura" nada mais é do que uma forma de saber quando comentários são postados. Quando não existe moderação de comentários, eles são publicados e muitas vezes não me dou conta. Pode xingar à vontade que o seu comentário será publicado, garotinho.

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