quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Ressaca - não se mexe em time QUE tá GaNHAndo

Nem me lembro da última vez que assisti a uma comédia no cinema. Nós, pseudo-intelectuais cinéfilos, temos a mania que a comédia é um gênero menor. Assistimos, rimos, mas não damos valor. É que nem pagode: ouço, mas não compro CD. Geralmente assisto comédias em casa, em dvd ou na tv a cabo. Existe uma teoria que a câmera não deve se mexer muito ou que a luz não pode ser muito contrastada para que não se perca a essência das piadas. E realmente, a teoria se aplica na maioria dos casos. Comédias não são técnicamente elaboradas. Não é a toa que as sitcoms são plano/contra-plano num ambiente muito bem iluminado e sem sombras.
Dentre os mais de 100 filmes (na coluna de obras primas à direita) que eu considero essenciais, só se enquadram dez comédias. Cinco são do Charlie Chaplin, duas do Wes Anderson, uma do Woody Allen (não, não é Noivo Neurótico), uma do Mel Brooks e Napoleon Dynamite, a comédia mais cult de sempre.
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Este ano assisti (na tv a cabo do meu pai) Se beber, não case. O título em inglês é The Hangover (A Ressaca) o que me fez perguntar: Para quê mudar o título se o original é a perfeita descrição do que acontece no filme? Existe uma tradição global de alterar radicalmente os títulos originais de filmes, mas acho que o Brasil é campeão em tal quesito. No passado, se alterava de forma até poética. The Wild Bunch (algo como O Bando Selvagem) virou Meu ódio Será sUa Herança. Algo simples como Giant (Gigante) se tornou Assim caminha a Humanidade.
Eu morei em Portugal por 10 anos e sei que os portugas também aprontam das suas. Die Hard virou Assalto ao Arranha-Céus. Quando surgiu a continuação, que não se passava num arranha-céus, virou Assalto ao Aeroporto. Com o terceiro, os tradutores desistiram e chamaram-no de Die Hard 3 mesmo. Uma vez a revista MAD sacaneou que em Portugal Um Tira da Pesada se chamou Um Policial com Excesso de Peso. Os lusitanos se vingavam sacaneando a tradução brasileira de The Godfather (O Padrinho) que aqui se chama O Poderoso Chefão.
Hoje em dia, a imaginação fértil dos tradutores deu lugar à imbecilidade. Inception vira A Origem, The Kids are all Right vira Minhas Mães e Meu Pai e The Hangover vira Se Beber, NãO CASe.
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Apesar de saber que The Hangover 2 seria uma repetição da fórmula do primeiro mudando o cenário e algumas piadas, resolvi sair de casa rumo ao cinema. Saí relaxado do filme. Ri onde tinha que rir. Sem pretensão.
No caminho de volta, percebi que não tinha saído para ver uma comédia. Tinha saído para ver um buddy movie (filme de amigos, parceiros), sub-gênero popular em todos os gêneros. Acho que gostei tanto do primeiro Hangover porque parecia um O que aconteceria se os personagens de Stand by Me (Conta Comigo) crescessem? Muito mais avacalhado, claro. Sempre sonhei em ter aquela amizade lúdica, de pessoas que dariam e arriscariam tudo por você. Queria ser um Goonie. Queria ter um Doc Brown do De Volta para o Futuro para chamar de meu. Já tive grandes amizades, mas todos acabaram se esvaindo entre brigas ou pela distância dos oceanos. De tempos em tempos faço novas amizades, mas elas acabam desaparecendo por um motivo ou outro. Às vezes não temos tempo, não telefonamos ou estamos demasiado envolvidos com um novo amor que esquecemos do resto do mundo.
No entanto, descobri que apesar de não ter uma amizade fixa por décadas como nos filmes, quando reencontro certas pessoas, parece que o tempo não passou. Essas são as verdadeiras amizades. O tempo ou a distância nos separou, mas o reencontro é como se nunca tivessemos nos separado.
Voltei a pensar em algumas piadas de The Hangover 2 e ri enquanto caminhava. As comédias podem pertencer a um gênero menor, mas não consigo viver sem elas.

3 comentários:

  1. Não vi The Hangover 1, mas sábado comprei o dvd e assim que o jornal me permitir um tempo de sobra, vou assistir.
    No mais, tb tenho saudades dos meus amigos.
    Bjda.

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  2. Ô meu amigo, as amizades verdadeiras são mesmo essas que a gente tem, são ótimas e são muito mais pra The Hangover do que pra Stand By Me. Os buddy movies que envolvem amizades lúdicas são legais, despertam na gente um calor no coração, mas às vezes isso me parece um tanto quanto utópico. É quase como se os amigos fossem brothers de sangue, unidos, mega companheiros, e quase tudo parece perfeito. Beira o amor platônico, na minha opinião, às vezes uma coisa meio gay. Quando nos encontrarmos de novo, vamos chapar e ter um Hangover brutal tb! Abraços

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  3. Alemão, o Hangover é engraçado, mas deve ser visto sem expectativas. Falou-se muito da originalidade do filme, mas não passa de um filme de uma piada só. Mas vale a pena.

    Marcelo, tô tendo várias Hangovers sozinho, acompanhado será mais gostoso.

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