quarta-feira, 15 de junho de 2011

QUAndo a estética tem conteÚDO...ou é COOL

Ao trocar mensagens com uma amiga, ela me relatou que tinha terminado um curso de visagismo. Na minha ignorância, dei um google e li a seguinte descrição: "Visagismo é a arte de criar uma imagem pessoal que revela as qualidades interiores de uma pessoa, de acordo com suas características físicas e os princípios da linguagem visual (harmonia e estética), utilizando a maquilagem, o corte, a coloração e o penteado do cabelo, entre outros recursos estéticos." Desde que o mundo é mundo que as pessoas tentam imprimir suas personalidades através de elementos estéticos. Um cara de bem com a vida pode colocar uma camisa colorida (às vezes até inconscientemente) para representar esse estado de espírito, assim como uma pessoa deprimida pode se vestir de preto da cabeça aos pés.
No Rio de Janeiro, noto que nessa busca incessante por essa imagem pessoal, as pessoas se parecem cada vez mais. A gatinha no quarto se arrumando: "Sou periGUETE, então vou colocar essa sainha de babados, salto alto com sola colorida, blusinha folgada com decote generoso". Ela chega na Baronetti em Ipanema e se encontra com outras 100 meninas com os mesmíssimos trajes.
Em Tóquio, devido à semelhança física, os japas buscam desesperadamente mudar a cor de seus cabelos, usar roupas de tons berrantes e sapatos esdrúxulos. Com tamanha excentricidade e no meio de tantas cores, eles acabam ficando ainda mais iguais entre si.
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São poucos os cineastas que conseguem imprimir um estilo reconhecível. Se eu assistisse a um

filme inédito de Sergio Leone, reconheceria seu estilo sem que tivessem que me dizer nada. A maioria dos diretores são escravos de suas histórias e imprimem apenas o que existe de óbvio nas páginas do roteiro. Fiquei bastante impressionado com Danny Boyle quando li o livro que ele adaptou para fazer Trainspotting. As sequências mais geniais do filme, não estavam no livro, eram criações dele.
Numa preguiçosa viagem no sofá, me perguntei qual era o plano que caracterizava os curtas que já fiz. Eu tinha uma marca estética?
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Como num relâmpago lançado por Odin, veio à minha cabeça Quentin Tarantino (sempre ele). Todos os filmes dele têm o já apelidado trunk shot (plano do porta-malas). Um personagem abre o porta-malas e a câmera é posicionada dentro deste. Em Inglourious Basterds ninguém abre porta-malas, mas mesmo assim ele posiciona a câmera no chão e faz o plano para não perder a marca.
Nos meus primeiros curtas, isolado no inverno nova yorkino, eu resolvi sempre colocar a bandeira brasileira em quadro. Queria imprimir uma marca. Representava o lugar de onde eu vinha, mas sinceramente, era um simbolismo meio óbvio. Quando rodei o Ferocidade, sequer me ocorreu colocar a bandeira no filme. Só me toquei quando minha mãe mencionou que desta vez não tinha bandeira (só fã mesmo para notar).
O trunk shot do Tarantino é simplesmente estético, não tem qualquer valor narrativo. É simplesmente cool.
Martin Scorsese tem uma marca registrada já muito copiada. Ele aproxima a câmera rapidamente de um ator que vai em direção à ela. Esse plano é sempre associado a um momento de ansiedade, pressa ou euforia do personagem. Ele tem uma variação dessa técnica em que ele também aproxima a câmera do ator, só que lentamente e com o ator no mesmo lugar. É como se estivessemos entrando dentro da cabeça do personagem e sem que ele precise dizer nada, sabemos exatamente o que ele está pensando (na cena de Goodfellas abaixo, o personagem de DeNiro decide matar um chato).
Claro que ter o Robert DeNiro e uma PuTa soundtrack ajuda. No caso de Scorsese, o seu
dolly shot não só tem uma beleza estética, como tem conteúdo.
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É óbvio, CACeta! A minha marca registrada era o plano sequência. Não só por ter feito o último curta assim, mas por sempre ter trabalhado com longos takes.
Questionaram-me se rodar o roteiro em plano sequência não seria apenas uma opção estética que prejudicaria o desenrolar da história. Tinha certeza que não. Bolei o roteiro para isso. A pergunta era pertinente, pois uma coisa era ter um longo plano sequência nos meus filmes anteriores (que poderiam ser encarados apenas como estéticos); outra coisa bem diferente era fazer um filme inteiro em plano sequência e correr o risco de se tornar uma estética oca. Arrisquei e foda-se. O dinheiro é meu. Tô pagaaaaaaando.

Sorriso de canto de boca. Visagismo Cinematográfico. Eu TENho uma MARca!

NOTA- Buscando uma imagem representando estética para ilustrar o post, achei essa imagem baseada em Vertigo, do Hitchcock. Se você fixar os olhos no centro e se inclinar para frente e para trás, vai reparar que a imagem é 3D.

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