No Rio de Janeiro, noto que nessa busca incessante por essa imagem pessoal, as pessoas se parecem cada vez mais. A gatinha no quarto se arrumando: "Sou periGUETE, então vou colocar essa sainha de babados, salto alto com sola colorida, blusinha folgada com decote generoso". Ela chega na Baronetti em Ipanema e se encontra com outras 100 meninas com os mesmíssimos trajes.
Em Tóquio, devido à semelhança física, os japas buscam desesperadamente mudar a cor de seus cabelos, usar roupas de tons berrantes e sapatos esdrúxulos. Com tamanha excentricidade e no meio de tantas cores, eles acabam ficando ainda mais iguais entre si.
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São poucos os cineastas que conseguem imprimir um estilo reconhecível. Se eu assistisse a um
filme inédito de Sergio Leone, reconheceria seu estilo sem que tivessem que me dizer nada. A maioria dos diretores são escravos de suas histórias e imprimem apenas o que existe de óbvio nas páginas do roteiro. Fiquei bastante impressionado com Danny Boyle quando li o livro que ele adaptou para fazer Trainspotting. As sequências mais geniais do filme, não estavam no livro, eram criações dele.
Numa preguiçosa viagem no sofá, me perguntei qual era o plano que caracterizava os curtas que já fiz. Eu tinha uma marca estética?
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Como num relâmpago lançado por Odin, veio à minha cabeça Quentin Tarantino (sempre ele). Todos os filmes dele têm o já apelidado trunk shot (plano do porta-malas). Um personagem abre o porta-malas e a câmera é posicionada dentro deste. Em Inglourious Basterds ninguém abre porta-malas, mas mesmo assim ele posiciona a câmera no chão e faz o plano para não perder a marca.
Nos meus primeiros curtas, isolado no inverno nova yorkino, eu resolvi sempre colocar a bandeira brasileira em quadro. Queria imprimir uma marca. Representava o lugar de onde eu vinha, mas sinceramente, era um simbolismo meio óbvio. Quando rodei o Ferocidade, sequer me ocorreu colocar a bandeira no filme. Só me toquei quando minha mãe mencionou que desta vez não tinha bandeira (só fã mesmo para notar).
O trunk shot do Tarantino é simplesmente estético, não tem qualquer valor narrativo. É simplesmente cool.
Martin Scorsese tem uma marca registrada já muito copiada. Ele aproxima a câmera rapidamente de um ator que vai em direção à ela. Esse plano é sempre associado a um momento de ansiedade, pressa ou euforia do personagem. Ele tem uma variação dessa técnica em que ele também aproxima a câmera do ator, só que lentamente e com o ator no mesmo lugar. É como se estivessemos entrando dentro da cabeça do personagem e sem que ele precise dizer nada, sabemos exatamente o que ele está pensando (na cena de Goodfellas abaixo, o personagem de DeNiro decide matar um chato).
Claro que ter o Robert DeNiro e uma PuTa soundtrack ajuda. No caso de Scorsese, o seu dolly shot não só tem uma beleza estética, como tem conteúdo.
Claro que ter o Robert DeNiro e uma PuTa soundtrack ajuda. No caso de Scorsese, o seu dolly shot não só tem uma beleza estética, como tem conteúdo.
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É óbvio, CACeta! A minha marca registrada era o plano sequência. Não só por ter feito o último curta assim, mas por sempre ter trabalhado com longos takes.
Questionaram-me se rodar o roteiro em plano sequência não seria apenas uma opção estética que prejudicaria o desenrolar da história. Tinha certeza que não. Bolei o roteiro para isso. A pergunta era pertinente, pois uma coisa era ter um longo plano sequência nos meus filmes anteriores (que poderiam ser encarados apenas como estéticos); outra coisa bem diferente era fazer um filme inteiro em plano sequência e correr o risco de se tornar uma estética oca. Arrisquei e foda-se. O dinheiro é meu. Tô pagaaaaaaando.
Sorriso de canto de boca. Visagismo Cinematográfico. Eu TENho uma MARca!
NOTA- Buscando uma imagem representando estética para ilustrar o post, achei essa imagem baseada em Vertigo, do Hitchcock. Se você fixar os olhos no centro e se inclinar para frente e para trás, vai reparar que a imagem é 3D.
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