sábado, 17 de dezembro de 2011

O MeLHOr e o PioR


Em uma cena do filme City Slickers (Amigos, sempre Amigos), os três companheiros do título contam o melhor e o pior momento de suas vidas. O personagem de Bruno Kirby conta o melhor momento de sua vida: farto de ver seu pai espancando sua mãe, ele acerta uma paulada no patriarca e expulsa-o de casa. Ele manda o pai nunca mais voltar. Os outros dois amigos ficam receosos de perguntar qual é o pior momento da vida dele. Afinal, se algo tão trágico foi o melhor momento de sua vida, imagina qual seria o pior momento?
Um deles finalmente se atreve e pergunta: "E qual foi o pior momento da sua vida?"

"O mesmo", ele responde.

2011 foi assim. O melhor e o pior.
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Depois de ser abandonado pela mulher que ama e impossibilitado judicialmente de ver a filha, o personagem de Gael Garcia Bernal em El Pasado, vai morar com o pai. Ele fica largado no sofá, vendo televisão, sem tomar banho. O pai, já em idade avançada, decide mudar-se para outra cidade. Gael pede para que o pai o leve junto. Promete lavar as roupas, limpar a casa e outros serviços domésticos. O pai olha para o filho com imenso desgosto e diz-lhe que não. O patriarca sabe que o filho precisa sair da depressão e buscar um objetivo útil da vida. E sabe também que sustentando seu filho de forma humilhante, não estará ajudando. Mas, mesmo que benéfica, a recusa não deixa de ser um duro golpe. A ideia do filme é excelente (sobre um cara que tem uma dependência extrema em relacionamentos afetivos). O livro no qual o filme se baseia deve ser uma obra interessante.
O ser humano traça metas para sua vida. Da mais simples, como comprar uma bicicleta, até a mais complexa, como tomar uma atitude que transforme o mundo. Me identifiquei muito (guardadas as devidas proporções) com o personagem de Gael. Valeu ter visto o filme só por causa dessa cena. Diversas vezes vi o caminho, que construía para atingir um objetivo, se ruir aos meus pés. Outras vezes atingi o objetivo mas não consegui segurá-lo em minhas mãos (talvez o mais duro de engolir).
Meu casamento acabou.

2011 foi assim. O melhor e o pior.
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Ferocidade entre a Urbe e a Flora ganhou dois prêmios de melhor filme. Os primeiros da
minha carreira. Ouvi meu nome ser chamado para receber o prêmio do júri popular no palco de Cuiabá. Ouvi elogios ao filme de diversos cineastas no festival de Buenos Aires. Tive o prazer de ouvir os aplausos do público ao lado do meu pai no festival de Vitória. Sumário: Ferocidade foi selecionado para 15 festivais nacionais e internacionais e ganhou dois troféus.
Meu melhor momento cinematográfico veio junto com a abertura oficial da minha produtora Krakatoa e três projetos de longa metragem para o ano que vem.

2011 foi assim. O melhor e o pior.
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Não tento esquecer os momentos ruins. São eles que me ensinarão a lidar com outros momentos negativos no futuro. Tento segurar o entusiasmo exacerbado em relação aos momentos bons. São eles que me manterão em cima do cavalo.

A dor de terminar um relacionamento. A alegria de viajar e ser "artista". A tristeza da solidão. O orgulho de escrever como nunca.
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2012 será bom e mau. Mas, acima de tudo, será um ano feliz.

Um comentário:

  1. Sempre que se faz um apanhado do ano que termina é uma balança daquelas antigas, de dois pratos: o melhor e o pior. Há anos chochos nada de extravagante - anos felizes. Há anos onde os braços pendem mais para um ou para outro lado: anos difíceis, nos muitos bons a dificuldade é segurar o cavalo para ele não disparar. E há anos com coisas mto boas e coisas mto más: na soma e vistos com alguma distância também são anos felizes, é só olhar para o angulo certo, aquele que nos faz crescer.
    A solidão é nossa companheira inexorável mesmo quando acompanhados. Vi um documentário na última semana onde se provava que o cerébro precisa de silêncio e solidão(qdo há concentração) para produzir. E que as pessoas que conseguem se sentir bem em sua própria companhia e gostam do silêncio, são mais felizes e mais produtivas.

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