sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Filmospectiva 2011


(Assistidos esse ano, não necessariamente produzidos/exibidos em 2011)

A Decepção: Melancholia, dir. Lars Von Trier, Den/Sue/Fra/Ale, 2011
Não é um filme ruim, mas não chega aos pés de seus trabalhos anteriores. O filme demora a dizer a que veio e quando diz, me pareceu um pouco óbvio. Óbvio é algo que nunca tinha visto na obra de Von Trier e isso me decepcionou.
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A Surpresa: A Suprema Felicidade, dir. Arnaldo Jabor, Brasil, 2010
Ouvi muita gente dizendo que o filme era chato. Dei ouvidos e não fui ver. No CineFest Buenos Aires, depois de caminhar muito pela cidade, resolvi assistir. Que filme magnífico. Uma obra de quem teve infância. Uma obra de quem já viu muitos filmes (principalmente Fellini). Uma obra de um Homem (com "H" maíusculo) que observa seus arredores e entende e ama o Rio de Janeiro. Se Toda Nudez Será Castigada não é uma obra prima (a peça é), hoje credito a culpa à falta de grana. Pela primeira vez, Jabor teve um orçamento decente à sua disposição e gastou muito bem cada centavo. A narrativa é mágica e, ao contrário de muitas produções nacionais, a parte técnica é impecável.


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Los Hermanos: Un Cuento Chino, dir. Sebastián Borensztein, Arg/Esp, 2011
Um Conto Chinês começa lento. Ricardo Darín faz o papel mal humorado de sempre. Parece que tudo vai dar em mesmice. De repente, a trama começa a me envolver e não consigo mais tirar os olhos da tela. A meia hora final é emocionante e me fez lacrimejar. O diretor é sempre sutil sem querer se mostrar presente na película e esse é um dos trunfos do filme.


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Trabalha bem pra cacete: Carlos, dir. Olivier Assayas, Fra/Ale, 2010
Édgar Ramírez encarna o famoso terrorista/revolucionário Carlos, o Chacal. O ator venezuelano entrega uma performance magnífica. Ele dá uma de De Niro e aparece atlético na fase jovem e barrigudo quando mais velho. Na trama, fala fluentemente inglês, espanhol, francês, alemão e engana com algumas palavras em árabe. Demonstra facialmente todos os seus dilemas e angústias. Um ator completo numa história muito bem construída em três episódios para a Tv francesa.


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Tv com cara de cinema: HBO
Se o cinema americano vive uma crise de boas histórias, o mesmo não pode ser dito de sua televisão. As melhores coisas que vi da dramaturgia americana foram em forma de séries. Enquanto o cinema mira grandes públicos de milhões de pessoas (e como tal, tem que criar tramas para agradar a todos), a tv a cabo mira em pequenos nichos de 5 milhões de espectadores. Dessa forma, ela cria conteúdo específico para públicos específicos. Isso beneficia os roteiros. Boardwalk Empire que se passa durante a lei seca em Atlantic City é primoroso e mata as saudades de quem adorava The Sopranos.


Mildred Pierce comprova que Kate Winslet é das melhores atrizes vivas e que o diretor Todd Haynes entende tudo de mulher.


Game of Thrones é uma jóia rara. É um Senhor dos Anéis para adultos. Atores fabulosos, figurinos perfeitos, efeitos especiais de babar, direção espetacular, uma trama política envolta de sexo e violência e um anão. O anão é demais. Trabalho de gênio feito para a televisão, mas com cara de épico cinematográfico.


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Besteirol: The Hangover, dir. Todd Phillips, USA, 2009
Muito engraçado. Segue a mesma fórmula clássica de qualquer comédia, mas o escracho é século XXI. Deixa Porky's e American Pie com ciúmes.
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Injeção de ânimo: The Fighter, dir. David O. Russell, USA, 2010
Filmes de boxe são geralmente sobre superação e este não é diferente. Vi esse filme numa fase difícil da minha vida e saí do cinema revigorado. Todo o elenco é muito bom, mas Christian Bale é um ator excepcional. David O. Russell tem um vigor de moleque e é um cara do qual já sou fã há algum tempo. Já que na vida real fica difícil, nada como ver um bom personagem resolvendo seus problemas metendo a porrada em geral.


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Maestro: Terrence Malick
Malick era daqueles diretores que eu sempre pensava: "quase". Seu primeiro filme que vi foi Além da Linha Vermelha/The Thin Red Line. A sequência inicial numa tribo é magistral. A paixão do diretor pela natureza é transplantada para a tela de uma forma linda. Mas, ficou por aí. Vi Badlands com Martin Sheen e fiquei com a mesma impressão: bom, mas não chega a ser uma grande obra. A Árvore da Vida acabou com essa sensação. Acho curioso que muitos disseram que era um filme experimental. Não tem nada de experimental. O filme não poderia ser mais clássico. Narrativa forte e consistente apoiada por um Brad Pitt cada dia melhor. Já virou cult. Fui atrás de outros filmes de Malick e vi Days of Heaven com Richard Gere (meu ídolo dos anos 80). Outro esplendor. Terrence Malick é gênio.


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A Obra Prima: Incendies, dir. Denis Villeneuve, Can/Fra, 2010
Um orfanato. Crianças tendo suas cabeças raspadas ao som de Radiohead. A câmera se movimenta lentamente. Que força. Que poder. A trama de dois irmãos gêmeos que têm que encontrar seu pai a pedido de sua falecida mãe. Palestina, violência, paixão, estupro, emoção. Um épico no médio oriente filmado com a agressividade de planos abertos ao extremo e close-ups torturantes. Um filme que dói. Um filme que alimenta. Maravilhoso.


Não, eu infelizmente não vi a Pele que Habito. Almodóvar por si só já seria uma categoria.

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