domingo, 4 de maio de 2014

Quem Não aRRisca...?

Tenho mais tempo solteiro do que namorando nesses 35 anos de vida. Hábitos se formalizam e acabamos nos acostumando. Sempre fui um Loner. Existem pessoas que não conseguem ficar sozinhas. Necessitam de um grupo para sair, para ir ao cinema, viajar. Algumas das melhores viagens da minha vida fiz sozinho. Não ter amarras, colocar uma mochila nas costas e partir sem dar satisfações a ninguém é libertador. Gosto de andar sozinho. Falo sozinho. Contemplo sozinho. O prazer de me perder andando de bicicleta em Amsterdam e ver as luzes do lindo porto da cidade. Parar o carro a poucos quilómetros de Las Vegas para ver o pôr-do-sol e os neons acendendo. Percorrer Frankfurt freneticamente entre dois vôos, bebendo pelo caminho e relembrando minhas aulas de alemão. Caminhar durante horas pelas areias de Arraial d'Ajuda com o sol e a chuva se alternando em um belo espetáculo. Momentos que apenas seriam possíveis diante da minha solidão, da minha liberdade.
"Antes só do que mal acompanhado" é um dos meus ditados preferidos.
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Em Into the Wild o personagem de Emile Hirsch queima dinheiro, abandona seu carro e parte para viver isolado no Alaska numa tentativa de auto-descobrimento. Ele sobrevive num ambiente altamente hostil, sozinho, contando somente consigo mesmo. Envolto pelos sons da natureza, ele lê, contempla e chega a conclusões. Lendo Dr. Zhivago, uma passagem desperta sua atenção e tudo se ilumina para o protagonista: "Uma felicidade não compartilhada não é felicidade". Por mais que precisemos nos isolar em alguns momentos, precisamos do próximo em algum momento para compartilhar. A troca de conhecimento, de experiências, de carinho e amor é fundamental para nossa existência. Já estive mentalmente no Alaska por muito tempo, estou com frio...
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Eu sofro por amor. Amar pode ser mágico mas também pode ser doloroso. A cicatriz remanesce. Visível. Memória constante daquilo que já não é. Mecanismos de defesa surgem. Inconscientemente bloqueio minha visão a qualquer pessoa interessante. A cicatriz. Olho para a cicatriz e saio do recinto. Dizem que o tempo cura tudo. Sou ansioso pra cacete. Não gosto de contar com o tempo.
"Enquanto a grama cresce, o cavalo passa fome" é um dos meus ditados preferidos.
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Um dos personagens da ficção com quem eu mais me identifiquei até hoje foi o Miles de Sideways. Interpretado espetacularmente por Paul Giamatti, ele é um escritor expert em vinhos que está totalmente deprimido desde que sua mulher o abandonou há alguns anos. Ele está no limite do alcoolismo e sua depressão é crescente. Em uma dada altura da trama, ele descobre que sua ex-mulher está grávida do novo marido. Miles vai para um fast-food qualquer e bebe um vinho premiado num copo descartável. Ele guardava aquele vinho para um momento perfeito. Eu também bebi um vinho muito caro que eu guardava há anos para uma ocasião especial. Queria ficar livre daquela garrafa que me pressionava a ter um momento perfeito com uma mulher para que pudesse degustá-lo. No meu caso foi libertador. Olhar para a cicatriz se tornou mais natural.
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Fui pego de surpreso. A intenção era beber um vinho e degustar um polvo. Um vestido rodopiou na minha frente. Os saltos bateram no tablado. Esqueci da cicatriz, disposto a mergulhar. Quero viver sem restrições. Quero ir com muita sede ao pote mesmo. Assusta? Pode ser, mas minha persona se comporta assim. Não sei disfarçar quem sou, camuflar meus ímpetos. Não me importo de acumular outra cicatriz. Me importo de não arriscar.
"Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher" é um dos meus ditados preferidos.

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